4 de agosto de 2010

Uma vulgar guerra de interesses e poderes

O que se está a passar no Ministério Público é apenas mais um capítulo da guerra de poderes que grupos de interesses desenvolvem em benefício próprio. Uma guerra que, convenhamos, não passa de uma ordinareca luta pelo poder. Afinal, quem é que manda? O Procurador-geral da República ou os procuradores [e as células sindicais que estão na penumbra]? Na verdade, esse é um capítulo insolúvel pois o desejo de mandar é partilhado e não está resolvido, não obstante a existência de uma hierarquia formal e objectiva. E disfuncional.

Para os procuradores, trata-se de uma questão de liderança. E é capaz de ser, pois no tempo de Cunha Rodrigues não piavam. Além disso, esta é também uma forma de se oporem publicamente a um Procurador-geral da República cujo cargo não corresponde a um amplo guarda-chuva de classe profissional. Nem o seu titular corresponde ao perfil de cão-de-fila na defesa dos superiores interesses de classe e na autonomia alargada que esta reivindica. Embora esta última condição, como é bom de ver, seja parcialmente satisfeita: em alguns casos demonstrados [também] pelas instâncias superiores, a instrução é conduzida por vezes com um sentimento de autoridade e impunidade assustadores, dada a manipulação irresponsável dos factos e dos indícios recolhidos. E alguma cólera contra as «forças do mal», cuja associação fica em muitos casos por demonstrar.

Mas, independentemente do estilo de liderança e da flacidez do indivíduo, é a credibilidade da justiça que é mais uma vez acicatada. Será que «a falta de tempo» é justificação plausível para a não inquirição de uma importante testemunha num processo cuja acusação só foi produzida após seis longos anos de investigação, contra-informação, polémica, interrupções, pseudo-perseguições políticas, etc.?

Não é, seguramente, o estilo de liderança que vai resolver a incompetência nem o desvio funcional…

Eu, se fosse o José Sócrates, exigia explicações. Nem para ele é vantajoso pois apenas permite que a nuvem de dúvidas que recai sobre si se adense.

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