24 de março de 2011

Demissão e remissão do governo

O PEC IV não foi aprovado e, como esperado, o primeiro-ministro apresentou a sua demissão ao presidente da república.

10 curtas, disparatadas e dispersas teses sobre a crise [da] política:

PS e PSD não se entendem sobre quem precipitou esta crise política. Mas serve os interesses de ambos. Ao PS, porque ou vence as eleições e recupera legitimidade política ou deixa para o PSD o ónus de ficar com o que, sabe, está para vir. Ao PSD porque Passos Coelho tem necessidade de aplacar a oposição interna e porque acha que ele é que é a prima donna... figura reivindicada pelo presidente da república, sobre o qual recaem enormes responsabilidades pela actuação dissimulada antes e depois da reeleição.

Não é líquido que a crise política tenha efeitos mais nefastos na confiança dos credores do que os efeitos de uma governação titubeante com os resultados que se têm visto na subida das taxas de juro que põem em causa a soberania do país. Além disso, as crises políticas são peças integrantes da democracia. A sua resolução dependerá, infelizmente, mais da maturidade democrática dos actores políticos do que da maturidade democrática da população.

Das palavras de Manuela Ferreira Leite e dos sinais dados por Passos Coelho, depreende-se que o PSD não só não tem um plano alternativo como o PEC ontem chumbado poderia muito bem ser obra sua.

Perante isto, só se pode dar razão aos dirigentes socialistas quando acusam o PSD de não ter sentido de Estado e desejar o poder pelo poder.

Poder esse que não deve ter saído da cabeça do governo, tendo em conta a impotência demonstrada consecutivamente em acalmar as feras e em resolver os problemas estruturais que estão na origem de um défice excessivo, quando poderia ter, num rasgo de humildade, procurado negociar um consenso à esquerda e à direita sem andar a cumprir a agenda política da Alemanha.

Mas, para isso, seria necessário que todas as forças políticas representadas na Assembleia da República pusessem os interesses do país à frente dos interesses partidários. Por uma vez que fosse. E estivessem verdadeiramente dispostas a fazer concessões em nome da unidade nacional.

Por essa razão, é muito mais fácil a todos (actores e comentadores políticos) falar na necessidade de sair um governo maioritário das próximas eleições, em vez de um governo minoritário com condições dadas pela oposição e disposto a governar com ela.

Assim, o cenário afigura-se negro porque a ideia de uma maioria absoluta (que o PS desperdiçou) não é expectável e nem Sócrates nem Passos Coelho estão dispostos a dar as mãos sendo certo que um entendimento no campo ideológico da esquerda parece impossível. Vá-se lá perceber porquê.

Finalmente, aos portugueses que ainda se dignarão ir às urnas e perante a evidência de a responsabilidade deste estado de coisas se dever quase exclusivamente a PS e PSD, a alternativa lógica dos insatisfeitos seria votar no BE, PCP e CDS-PP.

Agora se vê como, apesar dos erros cometidos e hoje amplamente reconhecidos, o governo de Guterres soube ser infinitamente mais responsável até ao dia em que aquele primeiro-ministro decidiu apresentar a sua incompreensível demissão. Porque, foi aí que esta crise política teve verdadeiramente início.

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