28 de dezembro de 2013

Orçamento Municipal e Opções do Plano 2014



A Assembleia Municipal de Évora reuniu-se ontem (27/12/2013) para, entre outras matérias, debater e votar dois documentos previsionais fundamentais para a gestão municipal: as Opções do Plano e o Orçamento Municipal para 2014. Dois escassos meses após a tomada de posse pelos novos órgãos eleitos nas últimas eleições autárquicas, cedo de percebeu ao que cada um vinha.

Tal não se deve às habituais tensões e escaramuças entre grupos políticos, motivadas por «inaceitáveis ataques à honra e bom nome» ou pelo fraco empenho intelectual de alguns ou ainda pela imaturidade democrática de outros.

Nesta sessão da Assembleia Municipal de Évora, a revelação ficou a dever-se à toleima do PS em questionar a legalidade do orçamento apresentado pela câmara, nomeadamente em relação ao inflacionamento das receitas, remetendo zelosamente para as regras previsionais do POCAL (Plano Oficial de Contabilidade das Autarquias Locais) só agora, depois de tantos anos, elevadas a um patamar inultrapassável. Aliás, foi dito que nos outros anos eram desconhecidas essas regras e que, este ano, o PS não poderia validar um documento que as não respeita. Um assombro ético, portanto.

Com efeito, tal como o PS sabe e sempre soube, esse problema nunca se levantou e a Assembleia Municipal lá foi aprovando estes documentos ano após ano com os votos favoráveis dos socialistas. À semelhança dos restantes municípios que tenham dívida a transitar de um ano para o outro (e que apresentem resultados operacionais negativos, como é o caso de Évora), as regras orçamentais exigem que as despesas estejam cabimentadas no orçamento e que, por esse motivo, existam receitas para suportar a despesa. Receitas e despesas têm que apresentar soma zero. Como é bom de ver, o Município de Évora não tem receitas suficientes para suportar a dívida de médio e longo prazo pelo que a transfere para o futuro, incapaz de a pagar no presente. E recorre, com a condescendência das entidades competentes, a um artifício contabilístico que consiste em prever receitas para lá daquilo que é razoavelmente admissível pela análise histórica dos últimos 24 meses. Por uma razão essencialmente técnico-legal. Não outra. E todos sabem que assim é.

Ora, se o POCAL foi criado para monitorizar e disciplinar a contabilidade autárquica com o fito de a manter controlada dentro de limites razoáveis (e fracassou, no caso de Évora), invocando neste caso particular princípios e regras de boas práticas, não é menos verdade que a regra de equivalência de todas as despesas correntes e de capital às receitas é obviamente falaciosa em organizações desequilibradas financeiramente. Ficamos com um dilema para resolver.

A realidade dos orçamentos demonstra o contrário do mundo idílico da teoria e o PS em Évora, mais do que ninguém, tem amplas responsabilidades nesse hiato com um conjunto de opções políticas desatrosas assumidas por um executivo que beneficiou sempre do apoio da concelhia e dos respectivos eleitos no órgão deliberativo. Mas não se coibiu de encenar em plena Assembleia Municipal um pequeno teatro com o objectivo de chumbar o orçamento já que, no âmbito do direito de oposição, teve oportunidade de discutir todos estes assuntos mais de uma semana antes da realização da Assembleia Municipal. Prescindiu desse direito (ao contrário do BE), para montar a festa pretendida na Assembleia.
De resto, para inviabilizar um orçamento que teve a preocupação de integrar todas as dívidas que andavam a circular por fora há anos. A título de exemplo, o orçamento de 2013 mascarou cerca de 10 milhões de euros de dívida que não foi devidamente inscrita, tendo sido prontamente aprovado na altura pelo PS. Sem qualquer peso na consciência. Mais, o orçamento contra o qual o PS votou tem a virtude de ter promovido o decréscimo das receitas artificiais em virtude do esforço operado com a redução de 20 milhões de euros relativamente ao orçamento inicialmente apresentado para o ano que agora termina.

O desconforto da interpelação do PS a este respeito ficou aliás estampado nos rostos e expressões  de alguns eleitos dos diversos grupos políticos na oposição, motivando inclusive um vivo repúdio pelo eleito do BE sobre aquilo que considerou um desrespeito pela ética política.

Com esta interpelação intencionalmente interessada em retirar nada mais do que dividendos políticos de uma forma que em muito fica a dever à conhecida elevação de destacados políticos socialistas, ficaram mais uma vez esquecidos os representados. Com a possibilidade de emendar a mão e reflectindo a posição oficial da bancada, o PS manteve o sentido de voto.

A segunda nota diz respeito a outra interpelação pouco feliz do PS feita pelo político mais experiente dentre os que integram a Assembleia Municipal.
Ao afirmar que as Opções do Plano são estéreis, vazias de conteúdo e que nada mais fazem do que manter as linhas do anterior executivo, ainda que não corresponda à verdade, entrou-se numa contradição juvenil: por dedução, demolir estas Opções do Plano significaria demolir as que foram apresentadas pelo anterior executivo. Talvez não fosse a isso que o «deputado» se estaria a referir...

Em todo o caso, a discordância é perfeitamente justificável. Para além de estas Opções do Plano reflectirem integralmente o Programa de Governo Municipal sufragado recentemente, há aspectos técnicos que são naturalmente ignorados pelo eleito em causa. Com a grande vantagem de estas Opções do Plano serem realistas e honestas, ie, não papagueiam promessas que não se podem cumprir...

Votos de bom ano!

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