12 de novembro de 2004

os deuses também já foram homens



YASSER ARAFAT (1929-2004)
Sendo frontalmente contra qualquer forma de terrorismo, seja carregando uma bomba à cintura, seja levando a fome e a degradação humana a povos praticamente indefesos, há no entanto um princípio que tomo como inexpugnável e inviolável: a autodeterminação dos povos. Nesse sentido, habituei-me a admirar os davids deste mundo que lutam contra golias refastelados em castelos intangíveis, superprotegidos e municiados.
As causas da luta em que este homem se embrenhou contra o Estado de Israel - contra o sagrado «povo eleito» na terra prometida pelo sangue, dor e destruição - são causas tão justas e legítimas como as que moveram timorenses contra a opressão indonésia; tão justas como as que motivaram a indignação mundial pelas loucuras cometidas durante a II Guerra Mundial; tão justas como as que levaram os povos colonizados a rebelarem-se contra o império.
Todavia, esta luta de uma vida não foi apenas travada contra os hebraicos. Foi infelizmente travada (na secretaria), justamente, contra todo o mundo ocidental que hipocritamente deliberou resoluções na Assembleia Geral das Nações Unidas, perfeitamente consciente que aquela guerra sem quartel haveria de durar enquanto os EUA fossem o principal aliado na facínora chacina perpetrada pelo «povo eleito». Contingências, dirão alguns...
Não é porém, neste momento, importante recordar todos os motivos que animam o povo palestiniano ou o único motivo em que alicerça a teleologia israelita; não é importante recordar a parasitagem levada a cabo por Israel sobre os recursos palestinianos; não é agora importante contabilizar vítimas ou recordar a quem tem a memória curta, quais as consequências da opressão e perseguição; não é sequer importante considerar a incompreensível intolerância a que sempre foram votados os judeus na Europa cristã.
Importante é compreender no presente, o que pode mudar para que aqueles dois povos possam viver em paz, lado a lado, sem muros, colonatos, mísseis, pedras e bombistas suicídas
Certo dia, quando instado a pronunciar-se como gostaria de ser recordado, Yasser Arafat respondeu apenas «como um homem que lutou pelo seu povo». É nessa condição que aqui é lembrado.

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