MUQATA, ARAFAT, PACHECO PEREIRA E OS SEUS AMIGOS
Por estes dias em que a classe jornalística assentou arraiais junto ao hospital militar de Percy de Clamart, fomos bombardeados por relatos da mais variada ordem, índole, competência ou propósito, justificando reacções como a que (e.g.) nos dá conta Pacheco Pereira (em www.abrupto.blogspot.com), referindo-se ao blog Homem a Dias (http://homem-a-dias.blogspot.com/2004/11/muqata-banana-e-cola.html).
No essencial, concordo com a indignação e até com o defendido por Pacheco Pereira, no que respeita à falta de «pudor, critérios, vergonha, conhecimento, juízo». É certo que jornalistas há bem poucos neste país, editores profissionais e coerentes ainda menos e público interessado, menos ainda que o ainda menos. Estamos todos de acordo em que frequentemente os «jornalistas» tomam partidos, fazem apologias, condenam em directo.
No entanto, há no texto de Pacheco Pereira uma breve e dissimulada ironia que simplesmente remete Arafat para o baú dos terroristas, naquela simplicidade néscia a que já nos habituou o presidente reeleito do Império.
Qualquer forma de terrorismo é abjecta, no entanto, entendo que a revolta convertida em desespero impede qualquer ponderação cartesiana. No mesmo sentido, a classificação de «terrorista» não me parece ser universal ou consensual, variando mais em função de circunstâncias e perspectivas.
Ora, pergunto-me: se Michael Collins foi para os ingleses um terrorista, foi para os irlandeses o quê? E a resistência francesa, foi para os franceses o mesmo que para os alemães (afinal de contas, é de uma ocupação que falamos)? A resistência afegã foi entendida da mesma forma para americanos e soviéticos? E a resistência kosovar, apoiada por americanos e perseguida por sérvios? As incursões republicanas durante a guerra civil espanhola eram ou não terrorismo? E os partidários de Xanana Gusmão, só matavam militares?
Latu sensu, o conceito de terrorismo remete para:
s.m., sistema de governar pelo terror e com medidas violentas;
actos de violência praticados contra um governo, uma classe ou mesmo contra a população anónima, como forma de pressão visando determinado objectivo;
forma violenta de luta política com que se intimida o adversário;
modo de impor a vontade por meio da violência e do terror.
Neste sentido, o que foi a colonização portuguesa? O que são os colonatos israelitas? O que é qualquer tipo de guerra? O que foi o Estado Novo? Neste baú, cabe necessariamente a perseguição movida por iraquianos e turcos aos curdos, verdade? Ou a perseguição dos cruzados aos muçulmanos; a Inquisição e a perseguição aos judeus feita pela Santa Sé; cabe, no fundo, toda a tradição cultural europeia que pretendem colocar no preâmbulo da futura Constituição europeia...
Entretanto, o argumento da violência sobre inocentes e civis não é válido pois tanto são inocentes e civis as populações que foram esmagadas debaixo dos exércitos de Napoleão, trucidadas pela detonação de bombistas suicídas, as que padeceram junto com as torres ou em qualquer cidadela espanhola, e muito em particular, as que morrem à fome por esse mundo fora para manter o nosso status quo ocidental.
Não adianta classificar o terrorismo ou procurar a sua ontologia. Interessa sim, perceber como se poderá reduzir o sofrimento não só dos que morrem como dos que encontram razões para matar. Mas para isso seria preciso que se acreditasse numa «ontologia de bondade» do ser humano...
Por estes dias em que a classe jornalística assentou arraiais junto ao hospital militar de Percy de Clamart, fomos bombardeados por relatos da mais variada ordem, índole, competência ou propósito, justificando reacções como a que (e.g.) nos dá conta Pacheco Pereira (em www.abrupto.blogspot.com), referindo-se ao blog Homem a Dias (http://homem-a-dias.blogspot.com/2004/11/muqata-banana-e-cola.html).
No essencial, concordo com a indignação e até com o defendido por Pacheco Pereira, no que respeita à falta de «pudor, critérios, vergonha, conhecimento, juízo». É certo que jornalistas há bem poucos neste país, editores profissionais e coerentes ainda menos e público interessado, menos ainda que o ainda menos. Estamos todos de acordo em que frequentemente os «jornalistas» tomam partidos, fazem apologias, condenam em directo.
No entanto, há no texto de Pacheco Pereira uma breve e dissimulada ironia que simplesmente remete Arafat para o baú dos terroristas, naquela simplicidade néscia a que já nos habituou o presidente reeleito do Império.
Qualquer forma de terrorismo é abjecta, no entanto, entendo que a revolta convertida em desespero impede qualquer ponderação cartesiana. No mesmo sentido, a classificação de «terrorista» não me parece ser universal ou consensual, variando mais em função de circunstâncias e perspectivas.
Ora, pergunto-me: se Michael Collins foi para os ingleses um terrorista, foi para os irlandeses o quê? E a resistência francesa, foi para os franceses o mesmo que para os alemães (afinal de contas, é de uma ocupação que falamos)? A resistência afegã foi entendida da mesma forma para americanos e soviéticos? E a resistência kosovar, apoiada por americanos e perseguida por sérvios? As incursões republicanas durante a guerra civil espanhola eram ou não terrorismo? E os partidários de Xanana Gusmão, só matavam militares?
Latu sensu, o conceito de terrorismo remete para:
s.m., sistema de governar pelo terror e com medidas violentas;
actos de violência praticados contra um governo, uma classe ou mesmo contra a população anónima, como forma de pressão visando determinado objectivo;
forma violenta de luta política com que se intimida o adversário;
modo de impor a vontade por meio da violência e do terror.
Neste sentido, o que foi a colonização portuguesa? O que são os colonatos israelitas? O que é qualquer tipo de guerra? O que foi o Estado Novo? Neste baú, cabe necessariamente a perseguição movida por iraquianos e turcos aos curdos, verdade? Ou a perseguição dos cruzados aos muçulmanos; a Inquisição e a perseguição aos judeus feita pela Santa Sé; cabe, no fundo, toda a tradição cultural europeia que pretendem colocar no preâmbulo da futura Constituição europeia...
Entretanto, o argumento da violência sobre inocentes e civis não é válido pois tanto são inocentes e civis as populações que foram esmagadas debaixo dos exércitos de Napoleão, trucidadas pela detonação de bombistas suicídas, as que padeceram junto com as torres ou em qualquer cidadela espanhola, e muito em particular, as que morrem à fome por esse mundo fora para manter o nosso status quo ocidental.
Não adianta classificar o terrorismo ou procurar a sua ontologia. Interessa sim, perceber como se poderá reduzir o sofrimento não só dos que morrem como dos que encontram razões para matar. Mas para isso seria preciso que se acreditasse numa «ontologia de bondade» do ser humano...
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