2 de janeiro de 2005

produtividade medida em feriados



De acordo com os nossos insignes analistas, a produtividade portuguesa está seriamente comprometida com o ano que se avizinha e as inúmeras «pontes» e fins-de-semana alargados. Na verdade, parece que a produtividade, cá por estes lados, depende exclusivamente do número de horas que os portugueses passam no local de trabalho.
Claro que 2004, um ano muito menos profícuo em feriados, foi tabelado por uma produtividade sem precedentes. E o Euro 2004 foi o expoente máximo dessa mesma produtividade, pelo menos para os chineses que aproveitaram a benesse popular e não se fizeram rogados na hora de vender fosse o que fosse que assinalasse as cores verde e rubro e a grande nação lusitana. Mas no governo também foi dado o exemplo e Santana Lopes não deu descanso aos 16 guarda-costas que durante quatro meses vergaram a mola noite e dia...

Este facto pode tornar-se algo preocupante e já estou a imaginar os trabalhadores portugueses a fazer cozido à portuguesa atrás de uma estante de arquivos ou a mudar a fralda ao bébé enquanto atendem um cliente. Mas é imperioso que passem 18 horas no local de trabalho e concordem em abdicar das horas extraordinárias, a bem da pátria. E que a energia seja de preferência à borla (agora já somos auto-susbistentes com a central de Alqueva, lembram-se?), «pois os Jaguares, BMW's e Bentley's estão a ficar caros... E pagar impostos, por favor, isso é autenticamente feudal, isso é terceiro-mundista, quer-se dizer, não é? E inovação tecnológica, optimização, formação profissional, são coisas muito bonitas mas só se for o Estado a pagar porque a minha empresa já dá prejuízo há 4 anos, safa!» (citando entre arrotos, um vulgar patrão português, com restos de berbigão no bigode, pança farta e cachucho no dedo anelar).

Agora se me é permitido, um aparte naturalmente menos sério: de acordo com dados divulgados pela OCDE, em média, os portugueses trabalharam em 2003, cerca de 1676 horas. Menos do que os canadianos (1718), americanos (1792), mexicanos (1857), polacos (1956) e até mesmo que os espanhóis (1800). Nem falo dos sul-coreanos (2390), uns mouros de trabalho. Isto faz de nós uns verdadeiros mandriões, o pesadelo de qualquer patrão. Não servimos nem para encher a caldeira de um combóio a vapor.
Pior de tudo, os nossos eternos rivais gregos, não só vêm no mesmo ano humilhar a selecção portuguesa de futebol três vezes consecutivas, como passam mais horas no local de trabalho do que nós (1938). São muito mais produtivos, mais até que os japoneses (1801)!

Mas, ainda assim, conseguimos trabalhar mais horas do que noruegueses (1337), suecos (1564), alemães (1446), dinamarqueses (1475), holandeses (1354), italianos (1591), belgas (1542), franceses (1431) e até mesmo que os britânicos (1673). Esta gente ainda trabalha menos que nós e facilmente comfirmamos a pobreza franciscana em que vivem e como as suas economias, assentes em mão-de-obra barata e baixa qualificação, só podem competir com economias tribais. Se não fosse a União Europeia e as contribuições dos portugueses, o que seria dessa gente? Como é que eles se governam, passando tão pouco tempo no local de trabalho? Por isso é que isto está cheio de holandeses a trabalhar no campo... Como trabalham pouco por ano e é da sua natureza trabalhar mais, vêm para Portugal que aqui há horas de sobejo.

Agora, se atentarmos nos valores, verificamos que a economia menos competitiva, vista pelo número de horas, é nada mais nada menos que a Noruega, esse colosso que é apenas o líder mundial de desenvolvimento humano, enquanto Portugal aparece num honroso 26º lugar, logo a seguir à Singapura, que está imediatamente atrás da... Grécia (malditos).

Mas, já agora, para os curiosos que queiram ver aquilo que parece não suscitar grande apetite entre os nossos insignes analistas e que pode aclarar a simplória questão da produtividade, é favor clicar aqui.

A estultícia também não tem limites, nem mesmo num mundo onde não há almoços popularuchamente grátis...

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