18 de março de 2005

Lacuna tecnológica

Ironicamente, a medida estratégica de um choque tecnológico deu lugar a um choque da tecnologia. Foi essa a justificação do governo para a demora da entrega do programa de governo no Parlamento.

E pronto, foi dada a desculpa, fiquemos por aqui e pela malfadada ironia.

Nem a propósito, é também contra a desculpa balseira e desresponsabilização que o governo deve actuar: verifica-se um erro, quanto muito uma desculpa forjada ou o tradicional escorrer de água de sucessivos capotes e, por fim, a redenção, seguramente «ultrapassada» numa semana com o tradicional «errar é humano»; será por fim, nostalgicamente contada numa alegre noite de consoada aos filhos, sobrinhos e netos. Já vi este filme vezes sem conta.

Um programa de governo não é um documento qualquer, não se trata de um simples oficio ou de uma newsletter. E não é que a falha seja irreparável ou com danos directos na vida das pessoas (como a colocação dos professores). Mas a competência das pessoas também se comprova pela capacidade de previsão e nesse campo, os responsáveis pelo envio revelaram parcas virtudes. E apenas pelo seguinte: a rede pode não comportar o excessivo peso da informação, podem suceder quebras de rede e o servidor ir abaixo. E neste particular, o governo não pode cometer erros, é a sua imagem de marca.

Isto faz lembrar aqueles trabalhos de alunos universitários, que não contando com a típica avaria da impressora ou do computador bloqueado, vêem os derradeiros minutos do limite de entrega do trabalho, transformados numa azáfama inconsequente e pouco sóbria. Mas o professor aceita a desculpa e a coisa passa. Mas são alunos, convém não esquecer. Aprendizes.

No governo não. É gente madura, experiente, avisada e rigorosa…

Em suma, três dias antes, já o programa de governo deveria estar imprimido, copiado, salvo em 30 CD-ROM’s e preparado para entregar em mão às forças políticas com assento parlamentar. Portanto, não aceito a desculpa.

Mas justiça seja feita ao programa do governo: também por estas é que se exige um choque tecnológico que traga eficácia aos nossos sistemas de informação e comunicação. Desde que não se ponham com ideias dissimuladas mas convergentes com ideias criticadas num passado não muito distante (e.g. central de comunicação sob controlo do Estado).

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