7 de março de 2005

O fenómeno «Picarodinhas»




Eles estão por todo o lado, podemos vê-los em qualquer canto do país. São os veículos «Picarodinhas». Há quem os chame «pica-rodinhas» mas o certo é que são um verdadeiro fenómeno de marketing artesanal, fortuito e um pouco brejeiro. Porém, vende!

O mais curioso é um qualquer comprador aceitar andar a passear aquele logotipo para onde quer que vá. Admitindo que não são oferecidos em troca, títulos de acções da empresa na compra de um automóvel, podemos distinguir, grosso modo, dois perfis de clientes:
Em primeiro lugar, o cliente que vê no logotipo qualquer coisa como um meio de ascender socialmente ou simplesmente é um obstinado que não vê a hora de sair do «stander» com o carro, delirando com a águia do Benfica que tenciona estampar no capot, assim que chegar a casa. Quanto a este, estamos conversados.
Em segundo lugar, aceitando que todos os actores fazem no momento da decisão, uma escolha racional com base numa análise simples de «custos-beneficios», temos o tipo de cliente que decide aceitar o automóvel a troco de algo que desconhecemos e talvez nunca possamos compreender.
Ora, depois de reflectirmos sobre o assunto, ponderamos as seguintes hipóteses:
1) o vendedor ludibria o comprador, «reduzindo-lhe» o preço inicial, seja na retoma, seja no inflaccionamento prévio do preço;
2) enquanto mantiver o veículo, o comprador tem descontos na oficina para toda a vida do automóvel;
3) a empresa paga um montante ao novo proprietário, pela publicidade feita no automóvel;
4) a empresa tem um camarote no Estádio da Luz, para o qual convida quinzenalmente dois felizardos;
5) os carros são oferecidos.
Todavia, após a ponderação das hipóteses avançadas por um perito e sem poder optar com rigor por nenhuma delas, somos levados a concluir por uma vasta zona intersticial, uma zona de incertidão localizada no cérebro das pessoas, a qual, por ser desigualmente distribuída tem impactos diversos nuns e noutros.
Por conseguinte, este continua [e continuará] a ser um dos maiores mistérios da vida, um segredo bem guardado pela natureza, uma meta-realização da acção humana, que nem os vendedores nem compradores conseguem explicar. Um epifenómeno, portanto.

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