3 de março de 2005

Prevenção ex post facto

Segundo parece, os testes de sobriedade estão a generalizar-se em algumas escolas americanas, fazendo parte do seu dia-a-dia.
Sem delongas e transpondo esta realidade para o caso português, imagine-se o que ganharíamos em produtividade e diminuiríamos em custos de seguros de vida, tratamentos e indemnizações, se o Estado português exigisse e regulamentasse a aplicação de testes semelhantes aos trabalhadores portugueses... As vidas que se poupariam.
... e sem ser por isso que a autonomia individual é posta em causa: afinal, não os fazemos já perante a BT? Não nos submetemos a testes idênticos para entrar em empresas ou no quadro de um organismo público? não somos já espiados em espaço público por aparelhos de vídeo (bancos, praças, estradas, serviços públicos e até cafés)? não somos sujeitos a fiscalização às contas bancárias em casos específicos? Desde que salvaguardas as questões éticas, por que não? Não é exactamente para isso que existem as comissões éticas e conselhos deontológicos?
E que tal começar pelos agentes da autoridade antes e depois de entrar de serviço?
Ah, e já agora, que se começasse (mesmo que à revelia dos costumes portugueses) a responsabilizar as pessoas pelos seus actos?
Infelizmente, aquilo que é tido como uma ética da responsabilidade, não pode, no caso português, deixar de ser indissociado dos mecanismos de condicionamento esplícito do Estado porque dificilmente é inculcado no quadro de referência colectivo dos portugueses (latu sensu, evidentemente). Por isso, as multas de trânsito dificilmente (também) vão parar de ser agravadas. A prevenção, no caso português (e não só, mas aqui que vivo), adquire contornos muito especiais... é a posteriori.

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