Quando se discute o desenvolvimento nacional, são frequentemente invocados diagnósticos e estudos que vão da competitividade dos mercados à idiossincrasia dos portugueses, e cedo se apontam medidas, reformas e estratégias. Como quase sempre, correm o risco de ficar abandonadas numa qualquer gaveta, sucumbindo ao pó, a outras lógicas bem portuguesas ou em alternativa, a uma edificação alicerçada no telhado. No plano regional, as coisas são em tudo semelhantes.
Sobram os lamentos, os prantos e até os rifões como o célebre «de Espanha, nem bons ventos nem bons casamentos», sempre que nos sentimos invadidos pelas batatas fritas, pelos combustíveis e por qualquer outro produto bem sucedido. Como se a responsabilidade dos mais altos níveis de analfabetismo e iliteracia da UE, combinados com um dos mais baixos PIB per capita (mesmo contando com os novos Estados-membros), fossem da responsabilidade dos espanhóis. A fraca colecta fiscal, o mau aproveitamento dos fundos de coesão (sem responsabilização nem avaliação), as estatísticas maquilhadas e a hipertrofia de Lisboa com o consequente desequilíbrio sócio-económico do país, também são da responsabilidade de Madrid.
Acontece que, enquanto nós papagueamos enfatuadamente sobre a maior ponte, o maior lago artificial, o maior aquário, a maior árvore de natal ou a maior feijoada, aqueles com quem partilhamos a península ocuparam-se da concretização de eixos de desenvolvimento concretos e estrategicamente delineados. Em 30 anos de democracia, tivemos o triplo de governos dos espanhóis e o triplo das reformas. Eles têm o triplo do sucesso.
Nestes termos, reportando-nos em concreto ao Alentejo, observamos como permanecem por concretizar todas as potencialidades identificadas no eixo tríptico de desenvolvimento constituído pela Barragem de Alqueva, Porto de Sines e aeroporto de Beja, servidos por uma rede integrada de transporte ferroviário.
Regressando aos nossos vizinhos e para melhor ilustrar os «ventos nocivos», naquele país contabilizam-se 44 aeroportos/aeródromos com transporte de passageiros. O de Badajoz registou em Janeiro passado (o mês mais fraco da época baixa) uma média diária de 160 passageiros. O de Beja, zero! Por outro lado, a bacia hidrográfica do Guadiana conta do lado de lá com cerca de 148 barragens enquanto do lado de cá contamos com apenas 9. Mas com uma que vale por 100, aguça o apetite dos operadores turísticos, mesmo em águas de má qualidade. Faltam alguns milhares de km de canais de rega, agricultores qualificados e uma PAC renegociada, mas a coisa vai lá. Um dia, quem sabe.
O caso de Sines é flagrante, dadas as condições geográficas e marítimas privilegiadas. Este porto está no caminho das principais rotas marítimas intercontinentais: a da América do Sul e a da Ásia com passagem ao largo do Cabo da Boa Esperança. Sines pode significar a porta para a Europa desde que assegure a restante ligação e assim garanta maiores vantagens comparativas em relação aos portos ingleses, holandeses ou franceses.
A indefinição quanto ao aeroporto de Beja, permanece metafísica, um tabu próprio das histórias obscuras de Vlad Tepes. Na verdade, ainda era João Cravinho o Ministro das Obras Públicas, quando um poderoso consórcio inglês se propôs para a sua exploração. Foi apresentado um projecto de viabilidade com um horizonte temporal de execução de 10 anos. O Estado português não gastaria um avo. Entretanto, com o decorrer das negociações, cedo de percebeu que ANA, governo e autoridades locais tinham estratégias e visões diferentes sobre a definição de interesse público. Típico.
Acontece que a viabilidade destes projectos depende largamente da visão dos nossos governantes, não apenas no plano nacional como também ao nível comunitário. Essa viabilidade depende enfim da nossa capacidade em expor aos nossos parceiros da UE, a dimensão da importância estratégica que têm estes projectos para a própria Europa. Temos melhor em Portugal? Já agora, o que andam a fazer os nossos 8 deputados?
Mas os problemas não pertencem apenas ao domínio das cúpulas. Ilustrativo é o facto do turismo numa cidade como Évora, não se compadecer com a existência de alguns «profissionais» mal preparados, sensíveis aos humores ou em locais privilegiados que fecham ao Domingo. A boa vontade não é suficiente. O nosso magro PIB confirma-o.
Ninguém pede aos portugueses que sejam ecléticos como os franceses, animados como os espanhóis ou organizados como os noruegueses. Mas talvez baste que tracem metas organizadas e interligadas, inovem e sobretudo, compreendam que a grandeza de um país não está no regresso do Figo, na realização dos Laureus ou de festivais de moda, mas sim no povo e na sua potencialidade em realizar grandes obras colectivas. Se durante o Euro 2004, o povo português se uniu admiravelmente em torno de um objectivo desportivo, porque não unir-se novamente exigindo nada menos do que a excelência? Começando pelas pequenas coisas do quotidiano!
Estou convicto que 427 anos depois, D. Sebastião não regressará. Estamos então à espera do quê?
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