28 de junho de 2005

Slogans e cartazes no trabalho

Entre as concordâncias e discordâncias que por vezes sentimos em relação a posições assumidas sobre determinadas matérias pelos opinion-makers portugueses, nem sempre é possível avaliar com rigor para onde pende a balança, se o saldo é positivo ou é negativo. Se há indivíduos desta estirpe, um deles é António Barreto. Muitas são as divergências, no entanto o saldo é-lhe manifestamente positivo nessa ladainha do deve e haver, não fosse ele uma autoridade só ultrapassada pelo Nuno Rogeiro. Mas quem sou eu, senão um mísero representante da geração à rasca…Toda esta chachada preambular, para me justificar que também tenho direito às postas de pescada; para me pronunciar, naturalmente, a partir do artigo de opinião de António Barreto, no Público de 26 de Junho [no qual ele discorre acerca do estilo de governação de José Sócrates - Energia é Poder], com respeito a uns pruridos que possam vir a molestar alguns.

O estilo energético de Sócrates pode de facto capitalizar algum poder, sobretudo num país habituado à heteronomia. Não obstante a história, avisadamente nos recordar que sempre fomos um povo pouco entusiasmado com a ideia de sermos governados por outros. Os espanhóis que o digam. Ora aí está uma daquelas contradições primordiais que são (in)superáveis, dir-nos-ia Eduardo Lourenço…

Mas há um assunto no texto de Barreto que me deixa ensimesmado: o novo sistema de nomeação dos cargos públicos. De acordo com a proposta que vai ser aprovada, as nomeações para os altos cargos da administração pública serão exclusivamente políticas, vigorando inclusive com a duração da legislatura.
Ou seja, são abolidos os critérios do amiguismo e mais remotamente, do mérito ou competência [apesar de não ser muito usual, consta que há casos em que o mérito pessoal determinava de facto a nomeação; quer dizer... diz-se). Creio que as progressões «horizontais», essas, deverão manter-se. A única diferença é que agora só deverão ocorrer dentro do partido, o que de resto, se torna excessivamente angustiante dada a redução do mercado em termos da oferta. Reduzido o mercado, está-se mesmo a ver para quem vão sobrar os «bacalhoeiros»... Prevêem-se algumas depressões. Mas a regulamentação era absolutamente necessária, até por uma questão de apuramento sanguíneo.

Assim, um qualquer alto dirigente fica obrigado a responder perante o partido e não necessariamente perante os seus próprios serviços. Muito conveniente. Ou seja, finda a nomeação, aumenta o número indivíduos cuja responsabilização pelo que de mau ou bom suceder, é meramente política, isto é, extingue-se com os resultados eleitorais. Muito conveniente.
Mais ainda, ficaremos a ter eleitos e não eleitos, em constante frenesim eleitoral. Não que em termos práticos não fosse já assim, só não era compulsivo. Ainda havia uma margem de manobra para aqueles amigos de infância, que lá por serem de outro partido, não deixam de ser amigos de infância. Lá por isso, não podemos deixar de ser humanos, são pessoas, caramba.Veja-se a coisa pelo lado positivo: não vão sobrar promessas eleitorais dentro de um serviço. Promoções, computadores novos, ajudas de custo, a chefia de uma secção, um carro de serviço, declarações de senilidade, lugar de estacionamento, fotocópias gratuitas para os miúdos, creche nos serviços, almoços, juntas médicas. O único problema é ter que gramar com as fotografias do chefe, dos filhos e do cão, espalhadas por todo o lado, durante seis meses antes das eleições e os seis meses da praxe posteriores à eleição.
Pior ainda, será ter que o ouvir a papaguear insistentemente sobre os benefícios em votar no partido do poder e como fizeram um bom trabalho e como são amigos das crianças e dos deficientes e da natureza e dos reformados.

Enfim, tudo se passará dentro de um serviço como em qualquer campanha eleitoral: persuasão, intriga, aliciamento, influência, sedução, assédio e tudo mais que o estimado leitor queira imaginar. Tudo!...

1 comentário:

Anónimo disse...

Enfim...continuamos a ter mais do mesmo. É necessário mudar alguma coisa para que tudo fique exactamente na mesma