Ainda a respeito das corporações e do «estado de graça» que serve de almofada a Sócrates e respectivo elenco governativo, é de facto possível que as medidas de agravamento contribuam para esse desgaste. A menos que sejam prudentemente acompanhadas de um princípio equivalente ao princípio da igualdade política, o qual decorre justamente da configuração dada pelos direitos civis, políticos e sociais: esse princípio é naturalmente a outra face da igualdade política no plano da cidadania, ou seja, o princípio da igual consignação de deveres.
Talvez assim, este governo «rompa o capote», não obstante algumas medidas perfeitamente injustas! Em particular para os funcionários públicos que de repente se vêm na obrigação de pagar pelos maus dirigentes que têm, assumindo a total responsabilidade que supostamente define os altos dirigentes da amalgama indiferenciada de funcionários desmotivados e desconsiderados (e também aqui se incluem os professores, pelo total desrespeito dos concursos, pese embora subscrever inteiramente as palavras de Miguel Sousa Tavares no Público há um par de meses, acerca dos inúmeros privilégios dessa classe profissional). Falamos de responsabilização, para não falar de índices salariais e privilégios.
E para isso, Sócrates tem que ter uma mão enormíssima e arregaçar mangas, porque vai certamente sujar os ombros devido à profundidade inalcançável do poço de lodo…
Lula da Silva no Brasil não está a ter a vida fácil, no entanto, as reformas inicialmente prometidas ficaram muito aquém das expectativas… O «sindicalista» optou por estar sossegadinho, bem «disfarçadinho de árvore».
Tal como do outro lado do Atlântico, também aqui muitos edifícios são gigantes com pés de barro e com telhados de vidro. E «incompreensivelmente» mantêm-se intocáveis.
Talvez assim, este governo «rompa o capote», não obstante algumas medidas perfeitamente injustas! Em particular para os funcionários públicos que de repente se vêm na obrigação de pagar pelos maus dirigentes que têm, assumindo a total responsabilidade que supostamente define os altos dirigentes da amalgama indiferenciada de funcionários desmotivados e desconsiderados (e também aqui se incluem os professores, pelo total desrespeito dos concursos, pese embora subscrever inteiramente as palavras de Miguel Sousa Tavares no Público há um par de meses, acerca dos inúmeros privilégios dessa classe profissional). Falamos de responsabilização, para não falar de índices salariais e privilégios.
E para isso, Sócrates tem que ter uma mão enormíssima e arregaçar mangas, porque vai certamente sujar os ombros devido à profundidade inalcançável do poço de lodo…
Lula da Silva no Brasil não está a ter a vida fácil, no entanto, as reformas inicialmente prometidas ficaram muito aquém das expectativas… O «sindicalista» optou por estar sossegadinho, bem «disfarçadinho de árvore».
Tal como do outro lado do Atlântico, também aqui muitos edifícios são gigantes com pés de barro e com telhados de vidro. E «incompreensivelmente» mantêm-se intocáveis.
O meu receio não é o intenso «cheiro nauseabundo» que se poderá libertar por remexer no lodo acumulado gerações após gerações. Sem nele remexer, biliões de seres humanos são obrigados a com ele conviver em cada segundo das suas vidas.
O meu receio é sim, tudo não passar de uma bela encenação para protelar privilégios momentaneamente acicatados (como aludia Uselesscells).
O meu receio é por outra via, que esses verdadeiros cartéis a que chamam Ordens (também alguns sindicatos e outros «direitos adquiridos») incrementem nova deriva populista e conservadora, no sentido de salvaguardar os seus interesses particulares em detrimento do TODO. É essa visão holista que deve prevalecer, salvaguardando as especificidades mas sem as ampliar desta forma obscena.
Alguns anos passaram desde que Emídio Rangel anunciou a sua receita de culinária para fabricar governantes. Aí temos o resultado com sucessivos governos desastrados, mais preocupados em governar para a «opinião pública» do que para o país. É integralmente isto a que Bernard Manin chama «Democracia do Público» para explicar o novo padrão da democracia representativa. No nosso caso, fomos (somos) confrontados com actores de terceira categoria.
Num outro registo, consideremos aquilo que Lipovetsky atacou por palavras como estas: "A política entrou na era do espectacular, liquidando a consciência rigorista e ideológica em benefício de uma curiosidade dispersa, captada por nada e por tudo. Daí a importância capital de que se revestem os media de massa aos olhos dos políticos; não tendo outro impacto para além do que a informação veicula, a política é obrigada a adoptar o estilo da animação (...)". Gilles Lipovetsky, A Era do Vazio, Lisboa, Relógio d'Água, 1989, p. 38.
Num outro registo, consideremos aquilo que Lipovetsky atacou por palavras como estas: "A política entrou na era do espectacular, liquidando a consciência rigorista e ideológica em benefício de uma curiosidade dispersa, captada por nada e por tudo. Daí a importância capital de que se revestem os media de massa aos olhos dos políticos; não tendo outro impacto para além do que a informação veicula, a política é obrigada a adoptar o estilo da animação (...)". Gilles Lipovetsky, A Era do Vazio, Lisboa, Relógio d'Água, 1989, p. 38.
E não é só de política que se trata. É também dessa desafectação que grassa na nossa sociedade civil, esse desinteresse confortável, egoísta e hedonista que apenas dá força aos inimigos da democracia.
Por outro lado, da fama já é difícil que os médicos (por exemplo) se livrem, todavia, mantêm um tal predomínio, legalmente enquadrado, que lhes outorga informalmente poderes só comparáveis aos de um «Príncipe»… A nossa sorte é que alguns são mesmo médicos, tal como outros acreditam mesmo na justiça! Uns estóicos idealistas.
Mas de algo estou convicto (na medida da minha ignorância): apesar de Nietzsche se referir às «convicções como sendo cárceres» (e eu concordar, no que à inflexibilidade intelectual concerne), admito porém que para um projecto individual sejam precisas mais ambições do que convicções. Essas, se me é permitido, gostaria de as reservar à abnegação de alguns em torno das grandes realizações humanas. E nesse campo, não creio que sem convicções, um qualquer alcance a «glória».
Por outro lado, da fama já é difícil que os médicos (por exemplo) se livrem, todavia, mantêm um tal predomínio, legalmente enquadrado, que lhes outorga informalmente poderes só comparáveis aos de um «Príncipe»… A nossa sorte é que alguns são mesmo médicos, tal como outros acreditam mesmo na justiça! Uns estóicos idealistas.
Mas de algo estou convicto (na medida da minha ignorância): apesar de Nietzsche se referir às «convicções como sendo cárceres» (e eu concordar, no que à inflexibilidade intelectual concerne), admito porém que para um projecto individual sejam precisas mais ambições do que convicções. Essas, se me é permitido, gostaria de as reservar à abnegação de alguns em torno das grandes realizações humanas. E nesse campo, não creio que sem convicções, um qualquer alcance a «glória».
Esta é a melhor oportunidade desde o 25 de Abril de 1974, para mudar as coisas, embora também acredite que tal só poderá acontecer se merecer do povo português um especial compromisso.
2 comentários:
Caro Uselesscells
Isto não é uma feira das vaidades, senão os grandes escritores portugueses já teriam monopolizado o espaço...
E quanto à qualidade, essa está no conteúdo, não na forma.
O ancião iletrado pode produzir as observações mais avisadas, da mesma forma que, na sua ingenuidade, a mais distraída criança. E como as nossas vidinhas nos levam a renunciar tanto a ensinamentos tão simples...
Uma vez mais, obrigado pelo comentário.
Ah, para além do excelente comentário, agradeço também as palavras...
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