A demolição do prédio na rua António Maria Cardoso, que albergou a sede da PIDE-DGS, vai avançar. A razão: um condomínio de luxo, motivo mais do que suficiente, financeiramente aliciante, para demolir a memória de um povo.
Noutros países, europeus e não só, este tipo de património é preservado e valorizado. Faz parte do legado histórico-cultural e simbólico de um país, de um povo. Aprende-se com ele.
Nós, movidos por uma obsessão muito nossa, assinalada pelo processo de evaporação de etapas de crescimento que queimem atrasos estruturais, somos incapazes de perceber os erros que cometemos, incapazes de nos reconhecermos a nós próprios, sempre que eclipsamos património reconhecido. Por outro lado, não é pela demolição que apaziguamos esse aspecto sórdido da nossa identidade colectiva. Mas presumo que também não seja essa a principal motivação. Porém, esperar-se-ia bem mais dos políticos, esses...
Afinal de contas, esse eclipsar da memória tem antecedentes concretos e o último grande momento do esquecimento colectivo terá sido a incapacidade de um povo realizar uma catarse auto-reflexiva sobre as suas próprias responsabilidades, na sequência da revolução dos cravos. O espisódio da sede da PIDE-DGS não é mais do que o corolário cumulativo dessa incapacidade. A PIDE-DGS e o Estado-Novo deixarão de existir quando o prédio se dissipar em pó.
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