24 de abril de 2006

Modas...

As modas, quando se anunciam, acabam por ficar. De início, por uns tempos e depois, perpetuam-se na memória de cada um. Processadas e sentidas diversamente. No instante em que são reconhecidas como tal, as modas despertam paixões, estimulam irracionalidades, projectam celebridades, condicionam atitudes colectivas, imortalizam nomes como Jean-Paul Gaultier, Elvis Presley e outros.
Com efeito, quem não se lembra do «Bicho» de Iran Costa? Ou do hipnótico iô-iô (mais saudável)? Da inolvidável mini-saia (mais saudável ainda)? Dos longos cabelos espigados em forma de ninho, impulsionados por Figo quando no Sporting? E dos jeans cuidadosamente rasgados ao nível dos joelhos? E do rabicho popularizado por Jim Diamond (o do shoulda known better ou no português «quem chora não berra»), da pêra tipo João de Deus Pinheiro ou do ruído metálico das chaves, panelas e ferramentas presos por uma corrente que une o baraço – que segura as calças – ao piercing no nariz da fricalhada? Tudo modas!
Mas nenhuma chega aos calcanhares das batinas cinzas, lançada por Mão Tse Tung. Embora a moda das democracias também se tenha difundido de modo inaudito. Veja-se casos recentes como o Afeganistão ou o Iraque.

Na verdade, as modas podem ser incluídas naquilo que os antropólogos, sociólogos, filósofos e outra fauna afim, designam por mimesis ou, mais prosaicamente, imitação. Imitação social, um factor de coesão e assunção de identidades, de estruturação das representações sociais, um classificador dos indivíduos.

Nestes dias temos assistido à profusão de opas protagonizadas por investidores portugueses, saídos dos escombros do torpor e da recessão de ideias. Eis que chegou a moda das opas, um processo de referenciação colectiva. Opas sobre tudo e todos. De repente, não há cão nem gato que não faça ofertas públicas de aquisição. As opas viraram moda, não alinhar significa o ostracismo, a degeneração, o imobilismo, a má imagem. Eu próprio vou promover uma. Sei lá… talvez sobre as forças armadas ou então sobre o Ministério da Educação.

Além do ardiloso gestor que é, Belmiro de Azevedo tem também o dom de criar modas, o que faz dele um criativo, um estilista. Neste caso, estiliza a forma de estar das empresas portuguesas… Oxalá nunca se lembre de transferir todos os seus investimentos para o Bangladesh, pois levará consigo, não um terço do PIB português (como fez Sócrates na sua recente deslocação a Angola), mas 9/10 da «riqueza» nacional.
Em todo o caso, esta nova moda tem o mérito de fazer sair a «riqueza» nacional da penumbra. Ao invés, na Dinamarca, Espanha ou na Estónia, por exemplo, a moda é ter superavits. Modas…

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