13 de junho de 2006

A Determinação de um Povo

Ontem, na emissão matutina da Antena 1, era entrevistado José Luís Júdice, ex-bastonário da Ordem dos Advogados e homem da direita. Um indivíduo que normalmente nada deve ao bom senso nem à moderação.

Afirmava Júdice, que Scolari tem um feitio que colide com algumas características idiossincráticas dos portugueses, os quais são, segundo ele, frequentemente pouco dados a “gente determinada” e convicta como o brasileiro.

Esta afirmação integra dois elementos de potencial discórdia. O primeiro releva dessa incompatibilidade portuguesa com indivíduos fortemente «decididos e determinados». O exemplo contrário a esse postulado é por exemplo, a forte atracção que muitos portugueses e outros, têm por Mourinho, um homem positivamente arrogante. Por vezes, irascível. Contudo, um brilhante profissional cujo mérito e inteligência são mundialmente reconhecidos. Mas também a crua sensatez, exibida nos momentos em que coloca a equipa à frente das suas convicções, isto é, quando escolhe de forma pragmática os jogadores, ainda que não nutra especial afeição por algum deles. É inteligente porque não percebe apenas de bola.

Em segundo lugar, a generalização primária – neste caso em órgãos de comunicação social – de uma pretensa característica padronizada, imputável a uma classe de gente: o português.

Ora bem, sejamos francos. Pela boca morre o peixe, estarão a pensar alguns críticos. Sucede que nos espaços de limitada divulgação como este blog, com público específico, é permitida alguma generalização e até o exagero, na procura de rupturas cognitivas e empíricas [q.b.]. Que nunca deixam de ser estratégicas, naturalmente. Mas será de algum modo questionável em canais de divulgação generalista, reconhecidos mediuns de educação de massas.

A distinção assenta originalmente nos perfis de públicos dos blogs, nomeadamente nos blogs de opinião (excluímos os de promoção político-partidária, nos quais não nos revemos), aos quais acede voluntária e frequentemente, um público minimamente esclarecido e munido de ferramentas capazes de desconstruir um discurso, com aptidões críticas para formar a sua própria opinião. Algo que nem sempre se verifica com auditórios generalistas de difusão massiva.

José Luís Júdice não cometeu um erro capital. Cometeu um equívoco vulgaríssimo protagonizado por qualquer ser humano mas que - quando enquadrado numa matriz em que se inscrevem uma personalidade mediática e a assunção de verdade atribuída tacitamente ao discurso dos media - poderá ser susceptível de difundir representações mentais desfasadas, sobre a heterogeneidade de um povo.
Afinal, há os que gostam imenso, muito, assim assim, pouco e nada de indivíduos como Filipe Scolari, Aristides de Sousa Mendes, José Mourinho, D. João I, Catarina Eufémia, José Sócrates, António Salazar, Pinto da Costa, Vasco da Gama, Luís Figo, Rui Nabeiro, Publia Hortênsia de Castro, Belmiro de Azevedo ou até da Padeira de Aljubarrota. Tudo gente determinada.

1 comentário:

ARV disse...

Nem de propósito, hoje de manhã no mesmo programa (Conselho Superior) da Antena 1, Bagão Felix alertava para os perigos das generalizações, nomeadamente a dos professores serem maus profissionais: há-os bons, razoáveis e maus, como em tudo na vida...