21 de junho de 2006

Queda Livre

Os prognósticos de há um ano revelaram-se acertados. Portugal continua alegre na sua marcha triunfante, averbando preciosos pontos do campeonato europeu da estultícia e da necedade. Depois de ultrapassados pela Eslovénia e Chipre, vem agora a República Checa mostrar a sua fibra, impondo-a à nossa, neste caso, em matéria de PIB per capita.

A culpa primordial está na monarquia e no recrutamento dos nobres, que, geneticamente néscios [embora reconhecidamente dotados de uma esperteza saloia triunfante], transmitiram esses genes geração após geração até chegar aos clãs políticos de hoje, controladores da decisão pública e privada aqui do tugúrio. Parvos, mas pouco…

Essa malformação genética do português não é geral. Para o provar, sobram exemplos de sucesso por esse mundo fora, desde as padarias no Luxemburgo até ao futebol de altíssima qualidade do Figo. Pronto… vá lá, condescendemos nesta matéria porque podem realmente ser nomeados variadíssimos casos de sucesso (António Damásio, Paula Rego, Madredeus, João Magueijo, Paulo Pinto, Fernando Gil, Eduardo Lourenço, entre tantos outr@s), curiosamente assinalados fora de portas. Também os há cá, brilhantes, mas de sangue duvidoso...

Portanto, o problema não se colocará tanto na genética, pelo menos dos que procuram fama e fortuna – vulgo condições mínimas para fazer um trabalho razoável – lá fora. É como se uma bizarra aura circundasse este espaço-tempo, um qualquer magnetismo, qual «rectângulo das Bermudas» cuja força atrai misteriosamente para o abismo, todos os que estão sob a sua influência. Mas cuja concentração atinge valores imensuráveis do topo da pirâmide, centro da corja «familiar».

Portugal teve dois momentos efémeros na sua existência, durante os quais se verificou grande fulgor: o tempo em que as riquezas das colónias e o tráfico negreiro traziam sem esforço, opulência. E a entrada na CEE, cujos fundos de coesão lá foram disfarçando a inépcia geral. Num caso os responsáveis foram visionários – Infante D. Henrique e o seu sobrinho-neto D. João II – e no outro, foi obra da persistência de um realista-oportunista, consciente do tamanho do buraco: Mário Soares (segundo ele próprio faz questão de bradar aos ventos). O Século XIX assinala assim a decadência de um país e as II e III Repúblicas marcam o seu recuo económico e social.

Portugal e os regentes do «reino» têm o dom de se deslumbrar com as maravilhas do que se faz. Do que os outros fazem, naturalmente. Como há sempre novidades, a concentração dispersa-se… e então, as coisas são tardias e ficam a meio. Casos da revolução agrícola, da revolução industrial, da massificação da educação sem afectar a qualidade, da reconversão produtiva agrícola e tecnológica, da investigação científica, da modernização administrativa, do combate à fraude fiscal, do incentivo ao investimento privado nacional, da flexibilização da Administração Central do Estado, da integração e articulação legislativa, da descolonização infantil, da qualificação da mão-de-obra, do ordenamento do território, do combate à alta corrupção, etc.

Quando aqui chegou, Sertório lá teria as suas razões para desconfiar desta gente. E, certamente não é por acaso que de nós terá Júlio César afirmado: “há nos confins da Ibéria um povo que nem se governa nem se deixa governar”.

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