13 de novembro de 2006

Duas Opções: Ou Ganhas ou... Ganhas!

Este tipo de assembleia geral que os partidos políticos, da esquerda à direita baptizaram com o ambicioso termo «congresso», conjuga frequentemente alguns atributos de inquestionável utilidade. Se, por um lado, à sua realização não está alheia a ideia de debate horizontal de ideias entre os militantes, por outro lado, permite que os partidos políticos não percam de vista o rumo definido nas principais linhas programáticas ou que, eventualmente o alterem, se assim for a vontade expressa pelos militantes. De qualquer modo, um rumo traçado pela aprovação das moções pela maioria.

Como se sabe, o princípio do debate de ideias (ao qual é inerente o esgrimir de argumentos, a superação de obstáculos e a definição ou confirmação de estratégias políticas), pode ser mais ou menos intenso e mais ou menos profícuo, consoante a conjuntura, as circunstâncias, a força e convicção da oposição.

O congresso do PS resultou, como aliás se esperava, num unanimismo enfadonho em torno do discurso em tom paroquial do chefe, o culto do chefe… Ausência de oposição? Inevitabilidade carismática? Incontestabilidade do trabalho desenvolvido?

Certo é que, a dado momento, se ficou com a sensação que o debate [que se pretendia rico, transversal, alargado] se circunscreveu a dois personagens (Sócrates e Helena Roseta) e a um tema: referendo à interrupção voluntária da gravidez.

Absorta e de algum modo obcecada com o tema, Roseta foi peremptória: que o governo tenha a coragem de, caso não vença este referendo, tomar a iniciativa de fazer aprovar a lei na Assembleia da República, quand même. Não podia ter sido mais amiga a preparar a defesa do Secretário-Geral, que não teve dificuldades em repelir o «ataque» com a lógica mais simples das coisas. Não se convoca um referendo à população para de seguida trair a vontade expressa pela mesma. Agrade o resultado ou não.

Ao propor tal cenário, Helena Roseta apelou inequivocamente à discricionariedade anti-democrática própria de governações despóticas. Então um referendo só é válido se alinhar pelo mesmo diapasão dos detentores do poder? Para os lados da arquitecta, a democracia directa que tão aguerridamente defende, será afinal um proforma de validação das suas próprias concepções, ideais e interesses?

No final, um tão pobre congresso só serviu para reforçar o ascendente de Sócrates, contribuindo para o legitimar ainda mais nos rumos mais ou menos erráticos que ele mesmo define «contra [alguns dos mesmos] ventos e marés» a que Santana Lopes sucumbiu.

1 comentário:

Silk disse...

Sabes o que penso sobre a questão que a Helena Roseta colocou em aberto, e que tu tão certeiramente refutas?Que a senhora, em primeiro lugar, nunca deve ter desejado referendo algum....provavelmente ( e aqui entro no campo do meu imaginário) porque não estando os portugueses em altura de ir a banhos, hão-de concerteza arranjar mais uma qualquer tarefa lúdica que os 'distraia' no dia de ir a votos...
:)
Mas este meu devaneio não te retira razões, com as quais concordo, quando afirmas:"Não se convoca um referendo à população para de seguida trair a vontade expressa pela mesma".
Ao Sr Primeiro-Ministro soltou-se-lhe um esgar levezinho...