26 de junho de 2007

Teorias de espaço público



O rapaz insistia em que não, que não se pode tirar fotos! Não, que ali quem manda é ele; e os seus. Com alguma diplomacia mas sem assinalável agilidade, lá ia apaziguando o ego do rapaz, redarguindo que ficasse descansado, que em atenção à senhora sua mãe e à sua imprevisível agitação - coisas que oportunamente simplifiquei com a palavra «respeito» - não tiraria mais fotografias. Mas lá lhe ia aborrecendo o juízo com um sorriso matreiro, tentando ensinar-lhe que aquilo era espaço público, com todas as implicações que isso tem. Ou não tem, no caso do rapaz, mais do que habituado a esgueirar-se do espaço público e do extenso normativo social e legal, que jamais entendeu. E que talvez nunca queira entender.

A vida destes rapazes é feita de desvios, de fugas a uma realidade desconhecida que não foi produto da sua acção concreta, é feita enfim, de vivências marginais e semi-nomadas aonde as estruturas sociais nem sequer têm a pretensão de chegar. Ele tinha a sua razão. Eu teria a minha.

Apertei-lhe a mão, devolvi-lhe as costas e regressei de imediato nos instantes seguintes para lhe perguntar: «e à minha namorada - que vai andar agora - posso tirar?». Sem o orgulho ferido, sem a sua autoridade posta em causa, assentiu, fazendo um gesto largo e generoso com a mão. Omnipotente. O canguru tornou-se dromedário e levou aquela gente toda a viajar. O rapaz, permaneceu petrificado de costas para a viagem.

Posted by Picasa

3 comentários:

Anónimo disse...

Um bocadinho forçado mas recebi a mensagem.

ARV disse...

Qual delas?

Anónimo disse...

Magníficas as fotografias do carrossel.Bom trabalho