12 de fevereiro de 2008

INEM das vaidades

Como a conversa entre a operadora do CODU (Centro de Orientação de Doentes Urgentes) e o bombeiro de Favaios não fosse suficientemente hilariante, os Gato Fedorento não puderam resistir a mais uma oportunidade tão generosa.

Porém, a montante desta embrulhada, ergue-se um gigante com pés de barro, sobre o qual assenta todo o edifício dos primeiros socorros em Portugal. A panóplia de meios sofisticados e a super-qualificação dos profissionais da emergência médica contrasta diametralmente com a suada e remediada estrutura nacional de bombeiros voluntários, com os quais, de resto, se pretende que o INEM articule a sua acção.

Nada mais falacioso. Analisadas as coisas com seriedade, os bombeiros voluntários não são mais do que aqueles que, por vezes, vemos em ameno torpor a beberricar umas minis, nessa displicência que só o voluntariado tolera. E são exactamente os mesmos que, com denodo e determinação, dão a vida pelas populações e pelo património do país, nessa atitude que só a nobreza de carácter admite.

Entretanto, os nossos insignes governos anunciam estouvados serviços que se pretendem de ponta e à imagem dos congéneres europeus, tremendamente eficazes e imbuídos da pretensa capacidade para substituir as unidades de urgência locais. Todavia, o valoroso trabalho desse pessoal bem treinado (com médicos e pilotos de fórmula 1 que põem em risco a sua e a vida dos restantes condutores), bem equipado (com helicópteros e VMER que são autênticos hospitais com equipamento de suporte avançado de vida) e bem remunerado, exige um desempenho equivalente dessa malta porreirinha, sacrificada e objectivamente mal preparada, que constitui o grosso do corpo de bombeiros voluntários.

Apesar de alguma formação que vão acrescentando à experiência dos anos, os bombeiros voluntários não estão preparados nem equipados para assistir a partos em ambulâncias em viagens de 70 quilómetros; nem estão certificados para entubar vítimas no local ou para quaisquer actos médicos.

Com a salvaguarda das honrosas excepções, não se pode exigir mais das associações humanitárias de bombeiros voluntários nem a homens que, nalguns casos, os patrões ainda lhes descontam do ordenado se vestem a farda para ajudar a apagar um fogo.

No meio de tudo isto, a grande e primeira responsabilidade não pode ser assacada aos bombeiros. Nem ao INEM. Os responsáveis são políticos e fazem normalmente a barba uns aos outros.

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