1 de fevereiro de 2008

Remodelação governamental

Ainda com respeito à recente remodelação do governo, que implicou a saída de um ministro (da saúde) e motivou a entrada de dois (saúde e cultura), não creio que haja muito a acrescentar à miríade colectiva de opinion makers nacionais (das televisões ao balcão pegajoso de mármore numa das poucas tascas que a ASAE ainda não fechou à bastonada).

Na óptica do primeiro-ministro José Pinto de Sousa, parece claro que um ministro é apenas mais um elemento inserido numa vasta equipa. E as reformas encetadas com maior ou menor oportunidade, devem ser entendidas a partir desse mesmo prisma e não como consequência de uma visão sectorial ou pessoal. Prevalece o colectivo, não fora o protagonismo insolente constantemente a pregar partidas ao Eng.º. Pinto de Sousa.

Isso mesmo procurou clarificar o primeiro-ministro quando desautorizou publicamente o ministro das obras públicas, naquela conferência de imprensa confrangedora por ocasião do anúncio da localização do novo aeroporto de Lisboa. Por isso manteve o homem na pasta, qual fiel bibelot.

Por conseguinte, desta remodelação governamental, é lícito que não se espere uma alteração na orientação política do governo. Apesar do actual caminho escolhido revelar permanentemente outro ponto cardeal que não o tradicional e esperado norte magnético.

Porém, mais do que uma simples e útil decapitação, a exoneração do ministro Correia de Campos soa a estratégia política traçada logo no início do mandato. Com a cumplicidade do até então ministro da saúde, iniciou-se uma cruzada de higienização do Serviço Nacional de Saúde, assente numa abordagem de saneamento financeiro. Quase em exclusivo. A meio do mandato e embrulhado no previsível coro de protestos, teria chegado a altura certa para dar sinais de desdramatização ao pagode (vulgo populaça) e colocar alguma água na fervura. Morna, para não arrefecer.

A escolha de Ana Maria Teodoro Jorge não é obviamente ingénua. O facto de ser médica ajuda a mitigar a oposição interna dos hospitais e da Ordem dos Médicos. A condição de apoiante de Manuel Alegre nas últimas presidenciais contra o candidato queimado deliberadamente por José Pinto de Sousa, vem apaziguar um foco de contestação interna (a ala esquerda do PS), amaciando o partido com vista às legislativas de 2009. Daqui a meia dúzia de meses já ninguém se lembra e Correia de Campos poderá integrar tranquilamente o conselho de administração de um qualquer instituto ou empresa pública. Desde que seja perto de um hospital central, não vá o diabo tecê-las e tenha que ser transportado pelos bombeiros no caso de adoecer...

Sem comentários: