26 de fevereiro de 2008

à tout propos (287)

A actual configuração territorial do trabalho modelou a tradicional em virtude das novas acessibilidades viárias e das novas opções em transportes colectivos. Hoje, é possível trabalhar a 100 quilómetros de distância sem pernoitar na localidade de acolhimento. Beneficiando apenas das primeiras, sou forçado a deslocar-me entre a zona de residência e a do local de trabalho, em viatura própria. São 75 quilómetros diários.

Essa frequência obriga-me a actualizar as minhas obrigações para com todos nós (vulgo Estado), a um ritmo francamente superior ao da maioria das pessoas, sempre que meto gasóleo no automóvel (ambientalmente mais poluente, financeiramente menos dramático).
Mas essa visita recorrente ao bar dos automóveis não representa só infelicidades. O relacionamento humano com os operadores das estações de serviço sai reforçado e permitimo-nos, por vezes, um ou outro comentário adicional ao vulgar «foi na bomba 5» e «muito obrigado».

Hoje, ao notar que a consola de um leitor de cartões de pontos apresentava um erro ortográfico, tratei de explicar pedagogicamente ao senhor que talvez devesse alertar a sua entidade patronal. De forma diligente e prática, o senhor respondeu de imediato: «isso não é [responsabilidade da] a minha empresa, é a empresa dos cartões».

Se este simpático senhor fosse um trabalhador do sector público, ainda estava a levar «porrada» de toda a gente e justificaria uma notícia na TVI sobre prestação de maus serviços públicos. Mas não, tratava-se apenas de um trabalhador cujos baixos rendimentos tudo desculpam. Como se no sector público todos fossem pagos como os administradores de empresas públicas.

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