5 de março de 2008

Saber ler a sociedade, saber viver o mesmo tempo histórico

Sem prejuízo para a necessidade de reformas em várias esferas da Administração Pública, os governantes têm que compreender que a construção social da realidade em regimes não opressivos, exige a partilha de princípios e uma base social de apoio alargada que se mostre identificada com os grandes desígnios sociais e institucionais. Esses factores estão na origem das convenções que as sociedades instituem consensualmente para o ordenamento jurídico, político e executivo. O universo político tem que ser capaz, cada vez mais, de reflectir a dimensão social de onde provém.

Ora, alicerçadas num princípio que me parece justo e necessário, as diversas reformas na saúde, educação e administração pública desaguam, no entanto, no incompreensível pântano provocado pelo desfasamento entre autoritarismo obstinado com o princípio de realização tout court e a consciência democrática, pouco dada a imposições. Mais ainda, quando consideradas infundadas ou questionáveis quanto ao caminho mais acertado em direcção à meta desejada.

Para dizer que, salvo condições específicas relacionadas com a mudança de paradigma ou com crises, qualquer tipo de mudança estrutural resultante de imposições oligárquicas corre o risco de desestabilizar o sistema. Não me refiro, naturalmente, a pequenas mudanças organizacionais e às resistências que enfrentam mas sim a mudanças substanciais que afectam objectivamente a vida de milhões de pessoas, estatutos, papéis sociais e hábitos contextualizados.

Aos governos, não se pede outra coisa senão governar em nome dos governados e reflectir politicamente o andamento das sociedades. Negociando, apresentando soluções, explicando, reformulando e recuando, se preciso for. Mas podem ficar cientes que um capitão jamais conseguirá conduzir o navio a bom porto sem o comprometimento e apoio dos marinheiros. A não ser que os tenha mal alimentados. Nesse caso, o apoio é falso.

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