29 de maio de 2008

Um prova de maturidade democrática

Na terceira sessão de discussão pública do Estudo de Enquadramento Estratégico do Centro Histórico de Évora, promovido pelo Grupo Pró Évora, foi convidado Fernando Nunes da Silva do Instituto Superior Técnico. Para além do forte contributo técnico e da desconstrução séria e pragmática ao documento, Nunes da Silva insistiu na clarificação política sobre o que se pretende para a cidade. Algo a que já tínhamos feito referência em post anterior. A orientação é política, as alternativas de intervenção pertencem ao for técnico e as decisões são políticas. Estes campos não são herméticos mas convém não os confundir.

Muito bem, o presidente da câmara municipal, José Ernesto de Oliveira, concluiu o debate com informações preciosas que nem o administrador da SRU, Jorge Pires, nem os responsáveis da Parque Expo, puderam fornecer. Também porque não lhes competia. O enquadramento desta hipótese de intervenção no plano de urbanização e nos planos de pormenor é fundamental para compreender uma visão de cidade. As estratégias não se fazem sem objectivos, independentemente dos modelos.

Compreendemos e concordamos com a urgência desta intervenção. Pelos motivos invocados: a necessidade de revitalizar o centro histórico e o timming dos fundos comunitários previstos no Quadro de Referência Estratégica Nacional. O executivo deu um sinal claro de abertura e, com certeza, terá todo o interesse em coligir o máximo destas sessões no sentido de limar os bicos encontrados.

Porém, também nos parece que a clarificação política que ontem o presidente da câmara realizou deveria ter acontecido antes da primeira sessão destes debates. Peca por tardia. Os debates teriam sido [ainda] mais ricos e objectivos. Por várias vezes tive a sensação que as pessoas estavam a comunicar em linguagens diametralmente opostas.

Continuo sem compreender qual o objectivo em termos de mobilidade e quais as formas para o atingir. Neste plano, a proposta é ambivalente. Em concordância com o Prof. Nunes da Silva, dá a sensação que, nesta matéria, elaborou-se um estudo do género catch all sceneries. Em política e na vida real, sabemos que não pode ser [sempre] assim. Discutíveis ou não, as opções políticas estão legitimadas pelo voto popular.

Pessoalmente, gostei muito de ver pessoas de matrizes ideológicas e profissionais distintas a discutir seriamente o futuro da cidade. Uma prova inequívoca que Évora é muito mais do que uma cidade património mundial transformada de tempos a tempos em campo de batalha partidário. São extremamente enriquecedores os contributos empíricos, ideológicos e cognitivos que aquelas pessoas desencadearam. Quem me dera a mim que pudesse ser assim todos os dias no meu trabalho e até, nos meus tempos livres.

É pela falta dessa interacção que se fazem e dizem asneiras irreflectidas. É esse um dos princípios da morte lenta e do acabrunhamento intelectual. Neste aspecto, infelizmente, sou juiz em causa própria.

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