1 de junho de 2008

As esperanças emancipatórias de um país

O mediatismo e a histeria colectiva que se respira em torno da selecção portuguesa de futebol e dos craques são, mais ou menos, comparáveis à missão da Apolo 11 em 1969. Hoje, os três canais de televisão em sinal aberto transmitiram um directo desde a recepção que o Presidente da República proporcionou à comitiva no Palácio de Belém, até à descolagem do avião em direcção à Suiça.

Que a chusma se preste a estas devoções messiânicas, agitando bandeiras e clamando pelos seus heróis, não é coisa que cause surpreendente novidade. Nem mesmo a opção editorial das estações de televisão privadas, obcecadas com a paralisia mental portuguesa.

O que constrange é a concepção de serviço público da RTP, amarrada a uma competição pueril e infecunda com os outros canais ao distender o tempo de reportagem, com todos aqueles meios e recursos envolvidos. E foi embaraçoso verificar a anulação profissional dos jornalistas, perdidos entre a oportunidade de um «furo» esvaziado de conteúdo e os comentários às bainhas das calças do Ronaldo ou às especulações sobre o teor da conversa entre Cavaco Silva e Scolari.

Depois disto, o «orgulho de Portugal» foi para a guerra tentar fazer dentro de um rectângulo relvado em 15 dias, o que o país inteiro não consegue fazer num ano. Como se aqueles rapazes estivessem prestes a operar a multiplicação dos pães.
As esperanças emancipatórias de um país resumem-se à deificação e sacralização desta rapaziada, por esta altura convertida em objecto de fé e peregrinação.
Aconteça o que acontecer, quando o sonho terminar, continuaremos a ser um dos países com as piores performances económicas e sociais da União Europeia.

Sem comentários: