2 de junho de 2008

PPEC, Processo «Privatizador» Em Curso

A eleição de Manuela Ferreira Leite para a presidência do PSD abriu novas perspectivas para a política portuguesa. Pela primeira vez, um partido político em Portugal é liderado por uma mulher, circunstância apreciável num país manifestamente machista; pela primeira vez, um líder partidário predispõe-se a governar um país até ao limiar da sua longevidade intelectual e física, caso cumprisse um segundo mandato. Séria e competente, faltam-lhe o carisma e os excessos dos políticos. Não serve e não tem estofo para acompanhar a pedalada de Sócrates em 2009 (mesmo enfrentando um período de aguda crise pela qual não responde e a crescente contestação interna encabeçada por Manuel Alegre).

Ao colonizar o espaço político do PSD, o PS enxotou os sociais-democratas ainda mais para a direita, escorraçando por sua vez os populares para o talhão nacionalista e ultra-conservador. E Manuela Ferreira Leite aceitou inocentemente o desafio, manifestando desde logo o seu desejo de ver as responsabilidades sociais do Estado subordinadas à lógica contabilística de uma pequena empresa sem capital intelectual nem noção de investimento imaterial.
Contra a gratuitidade do Serviço Nacional de Saúde e com reservas quanto ao carácter público das pensões, Manuela Ferreira Leite defende um progressivo esvaziamento do poder político do Estado, remetendo-o à sua capacidade legisladora, por não acautelar um único mecanismo de regulação cedível e alternativo ao do Estado em matérias tão primárias como a redução das assimetrias, a coesão nacional e a efectiva observação de direitos, liberdades e garantias.
Porque no tempo histórico-político que atravessamos não se conhece, de facto, mecanismo que substitua o poder regulador do Povo enquanto entidade abstracta, escrutinadora da acção dos seus próprios representantes. E convém frisar que, neste caso, uma entidade que pretende ver vertidos na acção política, os valores e princípios gerais que a guiam. Algo que em nenhuma parte do mundo foi efectivamente atingido por corporações tecnocratas e soluções empresariais.

A ambição de Pedro Santana Lopes obnubilou-lhe a réstia de capacidade para ler o que se passa à sua volta, levando-o a não respeitar [sequer] a fraca memória das pessoas. Pretendeu pegar na chaleira com as mãos a ferver. Um lamurioso terceiro lugar contra dois concorrentes fracos: Ferreira Leite e Passos Coelho. Patinha Antão não foi concorrente a nada.

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