10 de setembro de 2008

A verdadeira história de Kafka

Franz Kafka era um homenzinho cinzento de olhos negros esbugalhados e cabelo oleoso colado ao crânio. Trabalhava numa repartição pública e dedicava-se a compilar integralmente processos e requerimentos. Essas eram as suas funções, as quais eram desempenhadas com um zelo cirúrgico e um entusiasmo enervante. O alto grau de uniformização e equidistância que caracterizava o tratamento dado pela burocracia na altura, traduzia-se num completo alheamento de Kafka pelo que, era-lhe completamente indiferente se tivesse que compilar fielmente extensos manuscritos sobre regulamentos dos edifícios públicos ou pedidos urgentes de ajuda feitos por pessoas pobres para pagar viagens à Lua com o novo serviço da Virgin.

Ali chegava de tudo. Desde o tipo que se transformou em insecto gigante e as asas não lhe permitiam passar do quarto à casa de banho, ao agrimensor que, após alguns meses sem conhecer o patrão nem as tarefas consignadas, acabou por chamar o sindicato e conseguiu uma boa indemnização. Mas também há aquele caso do indivíduo que foi obviamente confundido com outro e só descobriu que não era ele quem os outros pensavam que era quando já tinha a corda ao pescoço e se estava a urinar todo. E isso, porque alguém na plateia lhe sorriu com olhar sórdido. Ficou a meio da mija.

Mas o diligente Kafka, no exercício das suas funções públicas, transcrevia tudo como se a sua máquina de escrever fosse a ferramenta copy/paste dos nossos pc’s.

Entretanto, parece que foi recentemente reconhecido como o maior arquivista de todos os tempos da Administração Pública. Ao menos isso porque jeito para escrever era coisa que não lhe sobrava.

7 comentários:

Anónimo disse...

Isso quer dizer que todas aquelas lindas analogias com a administração pública não são produto da ficção de um dos mais brilhantes escritores do século XX?

Anónimo disse...

Sim! É isso!

Anónimo disse...

José saramago também era funcionário público e revelou-se um excelente escritor.
Quer-me parecer que andam por ai, funcionários publicos com as suas qualidades desaproveitadas

Anónimo disse...

Não encontrei nada sobre esse tema.

NV disse...

Será um dom?
Para ser um actor, músico, artista plástico, dizem que é necessário ter um dom.
E para ser, funcionário público?

Anónimo disse...

Suportar a monotonia

Anónimo disse...

Suportar as resistências, os direitos adquiridos, a antiguidade ser um posto e o completo esquecimento do objecto e objectivo da administração pública. «Não te maçes, pá».