6 de janeiro de 2010

Évora, a água e a confiança política

A desconfiança dos cidadãos em relação aos políticos é grande, já se sabe. E reflecte-se no aumento continuado da abstenção eleitoral. Esse é um primeiro indicador da qualidade da democracia, ao qual podemos juntar muitos outros, desde logo ao nível da performance de partidos e políticos, conforme as teses de Russel Dalton (conceitos de apoio específico e apoio difuso), os índices de tensão social, etc.

Aquilo que se passa neste momento em Évora é, denecessariamente, um exemplo de como são os próprios agentes políticos quem contribui para romper os fracos elos de confiança entre a governação e os cidadãos.
Conhecedor da situação (aumento da concentração de metais na água da rede pública), o executivo municipal optou pelo perfil não alarmista ao impor a «lei da rolha». No entanto, é admissível que os «problemas na ETA da albufeira do Monte Novo» identificados no primeiro dia do ano por técnicos da empresa Águas do Centro Alentejo já estivessem relacionados com esta alta concentração de metais, pretensamente motivada pelas enxurradas dos últimos dias. Nada a obstar...

Desafortunadamente, os municípes só vieram a tomar conhecimento desta situação quando, durante a noite e madrugada, foram rodando as torneiras para constatar os rumores que se faziam sentir na cidade de Évora desde o fim da tarde de ontem, sem nunca terem merecido uma posição pública da autarquia. A confirmação da generalização da situação pela cidade - contrariamente às declarações vespertinas do senhor presidente à comunicação social, as quais se referiam a uma quebra de abastecimento circunscrita ao centro histórico - foi consumada pela comunicação social e não pela autarquia, como lhe competia.

Em suma, dá a sensação de a autarquia ter decidido arriscar, julgando poder ter a situação controlada antes de se ver obrigada a proceder ao corte no abastecimento de água. Como em alguns filmes, o «tiro» saiu-lhe pela culatra.

Sem comentários: