4 de março de 2010

Greve da função pública

Os números dos sindicatos nunca hão-de bater certo com as contagens da entidade patronal que, neste caso, é essa imensa nebulosa a que dão o nome «Estado», isto é nós próprios. Ou seja, tecnicamente, os milhares de funcionários que hoje aderiram à greve estão a protestar contra si próprios, na medida em que contestam as decisões dos seus representantes, eleitos democraticamente. Parece simples mas não é. Antes de mais, porque a selecção eleitoral obedeceu à vontade expressa da maioria dos que se dignaram ir às urnas, ou seja, cerca de 61% dos maiores de 18 anos recenseados. E depois, porque, ao contrário do confortável status quo instituído entre a classe política no que respeita à avaliação periódica dos representados aos representantes, uma eleição não é um cheque em branco.


Hoje, em dia de greve, muitas vozes se poderão levantar recordando a necessidade do rigor orçamental, do reequilíbrio das contas públicas, da convergência com o Pacto de Estabilidade e Crescimento. Um imperativo patriótico, quase se pode dizer.

Contudo, a necessidade de equilíbrio não é só orçamental. É, também, social. Aos funcionários públicos em greve não é razoável aceitar que recaiam sobre si, quase em exclusivo, as medidas de controlo da despesa pública, mesmo sabendo que os gastos com salários representam uma fatia de leão. Mesmo sabendo que o Estado, nas mãos dos nossos representantes, é despesista e é gerido como um joguete por uma criança mimada e inconsequente. Mesmo sabendo que os 50 milhões de endividamento concedidos à Madeira, uma região em que a dívida pública ronda os 80% do PIB regional, nunca serão pagos por outra entidade que não o Estado. Mesmo sabendo que a PT anuncie 312 milhões de euros de lucro bem como a banca, cuja contribuição fiscal é proporcionalmente menor que a de um assistente operacional com um vencimento de 450 euros. Mesmo sabendo que administradores de empresas públicas levem dezenas de milhar de euros para casa. Mesmo sabendo que a promiscuidade político-económica não é a excepção. Mesmo sabendo que a impunidade e a justiça são prerrogativas dos poderosos.

2 comentários:

Anónimo disse...

Os funcionários públicos que hoje fizeram greve têm vencimentos de miséria.
São os gestores públicos que ganham brutos ordenados, que chulam o estado; é a contratação a serviços externos em milhares de euros que arruina a função pública.

Anónimo disse...

Eu não posso contribuir mais. A empresa onde trabalhava fechou. O sacana do patrão ficou a dever-me 3 mesese de salário. Estou na merda à 25 meses. Já nem subsidio de desemprego tenho.