4 de maio de 2010

... nunca devia era ter aceitado...

A atitude sensata e digna do deputado socialista Jorge Seguro Sanches contrasta com a veleidade de Inês de Medeiros [e do despacho do presidente da Assembleia da República] no caso das viagens pagas à deputada socialista pelo Parlamento, entre Lisboa e Paris.
Procurando ser sensível a questões de natureza financeira, moral e ambiental, Jorge Sanches exige que sejam criados mecanismos que levem os deputados a optar sempre «pelo voo, classe e companhia aérea mais barata». Mais, defende que o recurso às viagens só deva ser accionado sempre que não seja possível a realização de reuniões de trabalho por videoconferência. Isto significa diminuição de gastos, diminuição de emissão de gases poluentes para a atmosfera e, até, eficiência dos serviços na optimização de recursos (tempo, materiais e financeiros).

Au contraire e legitimada pelo despacho do Senhor Presidente da Assembleia da República, Maria de Medeiros aguentou até à última uma situação que era polémica e evidentemente explorável do ponto de vista político. Em primeiro lugar, porque é eleita pelo círculo eleitoral de Lisboa e não pelo círculo [inexistente] de Paris ou pelo círculo [existente] da Europa. Por isso, estranho a inusitada justificação dada pela deputada em artigo de opinião publicado no jornal Público de hoje, quando sustenta que "o que está em causa é a garantia de que no Parlamento exista uma efectiva representatividade da realidade portuguesa". Esta tirada descabelada é reveladora do desnorte da Exma. deputada: então a senhora deputada, representante dos eleitores de Lisboa, julga que por viver em Paris os representará melhor?
Pior ainda a sua argumentação quando sugere no mesmo artigo que os montantes em causa "são pouco significativos em relação aos gastos correntes do Parlamento", procurando remeter a discussão para o plano político, para o plano da vitimização pessoal: «gastam tanto com tanta inutilidade e é a mim que achincalham?!»
Em segundo lugar, porque este e outros casos (deputados residentes em Lisboa eleitos por outros círculos eleitorais ou com residência fiscal convenientemente diversa da residência efectiva) configuram uma prática corrente que atesta bem do despesismo que grassa nas mais elevadas instâncias do país. O despacho do presidente da Assembleia da República confirma esse estilo de navegação alinhado pelas práticas costumeiras e pelos esquemas de compensação paralelos que compensam os aborrecimentos e as fezes inerentes ao cargo de deputado da nação.

O PS é que deveria ter-se chegado à frente mas, como em outras matérias, deixou que a deputada Inês se desenvencilhasse sozinha. Como se não tivesse sido convidada para integrar as listas...

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