Nesta altura da ida a banhos – «cá dentro», conforme a «especializada» e protectora sugestão do Presidente da República, Aníbal Silva – o interior do país assume definitivamente o estatuto de quintal das traseiras, só contrariado por uma ou outra calorosa festa do emigrante. Em contrapartida, o litoral fica irrespirável, intransitável e intratável.
Para além das consequências reais sofridas pelas regiões do interior do país, a litoralização do território português poderia representar uma espécie de fuga simbólica da Europa - que até podia ser real se não estivéssemos profundamente comprometidos com o «projecto europeu», pelo menos enquanto este nos continuar a sustentar. Caso Espanha não fosse um paradigma no desenvolvimento de novas centralidades e autonomias regionais, até podíamos pensar mais seriamente a Península Ibérica inspirada na metáfora de Saramago em Jangada de Pedra. De regresso à fuga simbólica da Europa (representada pela desconvergência em quase todos os índices, que vão do PIB per capita ao número de licenciados), é como se estivéssemos ensanduichados entre a espada – a ameaça continental – e a parede – o des-conhecido mar. Mar de esperanças e ousadias mas também de perigos suficientemente dissuasores e comprometedores do conforto da orla costeira.
E até podíamos pensar, simbolicamente também, que a «parede» funciona como um meio indutor da fuga, tipo grinder que esmaga lentamente e tritura este naco de carne: fuga da espada (como aconteceu com as invasões napoleónicas e a saída estratégica da corte para o Brasil); e fuga de nós próprios (a nossa vocação marítima e a atracção pela fartura que prometia o além-mar mas, também, a habitual projecção do sentimento da gloriosa nacionalidade nos «embaixadores» do sucesso como José Mourinho, Cristiano Ronaldo, António Damásio, José Saramago, a selecção de futebol, o pastel de nata numa cafetaria de Nova Iorque e a opção ocasional de um qualquer «artista» de Hollywood por um par de sapatos made in portugal), embora hoje já ninguém se lance às cegas no desconhecido... a não ser os outros, os quem vêm do Hemisfério Sul que, como se sabe, começa ali logo no Norte de África…
As preocupações políticas com o recuo do interior são públicas e, de tempos a tempos, regressa a conversa da regionalização, prometem-se medidas de discriminação positiva, ensaiam-se truques de atractividade no interior (como essa coisa fastidiosa do turismo de qualidade para ricaços sem tempo para safaris no Quénia). Porém, a situação não se inverte e, pese embora as assimetrias cavadas entre as populações, temos uma nação inteira acotovelada ao longo da folha de alface que constitui o litoral.
Prestes a naufragar a bombordo, de barriga vazia mas vestidos com fato de banho e caipirinha (nos anos 60 era o uísque, bebida sofisticada de gente fina...).
Prestes a naufragar a bombordo, de barriga vazia mas vestidos com fato de banho e caipirinha (nos anos 60 era o uísque, bebida sofisticada de gente fina...).
5 comentários:
Ainda não percebi porque razão évora não desenvolve as suas potencialidades turisticas?
talvez por não haver uma estratégia de operacionalização mas apenas uma «estratégia» de intenção.
De intenções está o povo farto, é preciso agir
porque é que badajoz é mais desenvolvido que évora? será porque as pessoas também são muito diferentes?
São precisas ideias inovadoras que façam mexer portugal.
Algo que faça a diferença. Mais do mesmo não obrigado.
Pensar o turismo de forma diferente, dar vida ás cidades, construir cidades mais ambientalmente sãs, cidades ricas em cultura e conhecimento.
Mas se a maioria dos portugueses é o que é, com mentalidades retrogradas e ,esquinhas, mais preocupado em parecer que ser
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