24 de setembro de 2010

A cabeça da serpente

É este género de anacronismo e, até, ingenuidade mística, que alastra pela cabeça dos actores judiciais norte-americanos. Não raras vezes as considerações morais, metafísicas e jurídicas se mesclam nas sentenças. Para além de «responsável moral» pelo assassinato do marido e enteado, ela foi também condenada por ser «a cabeça da serpente», logo, a origem do mal. Não me parece que este tipo de linguagem seja apenas um excesso, uma encenação semântica, uma metáfora. Eles pensam mesmo assim:
- «a bruxa foi caçada e eliminada, o Senhor há-de saber o que fazer com ela».

Quanto a Teresa Lewis, enfim, deixou de sofrer (Princípio da Realidade). Pouco importa agora se morreu com 41 anos ou se haveria de durar mais tempo. O sofrimento dela durou, afinal, uns escassos anos. Ao contrário de um dos autores materiais do duplo homicídio (o que não se suicidou), Lewis foi liberta. Seja como for, a sociedade americada (pelo menos a do Estado da Florida) considera que a eliminação mediática da bruxa é o justo preço a pagar pelos males que trouxe ao mundo, num benefício que se reduz à encenação da eliminação simbólica do mal.


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