11 de março de 2011

Nervoso miudinho

Depois de uma entusiasmante moção de censura preparada para «clarificar» posições e ali morrer, depois de um agitado vai-vem do primeiro-ministro entre Lisboa e Berlim com o intuito de prestar provas da nossa correcta aprendizagem, depois de um discurso de tomada de posse presidencial hipocritamente correcto e da imaturidade de um governo cego, incapaz de assumir responsabilidades pela governação e se comportar convenientemente (anedótica, aquela infantilidade teimosa do primeiro-ministro quando decide não ser o primeiro a saudar o presidente eleito, quebrando insidiosamente o protocolo e a lealdade simbólica reificada pelo acto), temos amanhã um protesto por todo o país, marcado por aqueles que vão pagar a factura das extravagâncias da última geração do bigode. E temos também um presidente da república a recuar naquilo que disse, alegando ter sido mal interpretado por pessoas mal-intencionadas. Estará a chamar mal-intencionados também aos que lhe vão pagar a pensão, os cuidados de saúde e as mordomias? Aos que sentem na pele os problemas que as viperinas línguas tanto papagueiam directamente para o alçapão do esquecimento?

Destes acontecimentos também relevam alguns indícios preocupantes sobre a nossa política e que se podem resumir em quatro ideias: esvaziamento ideológico (e axiológico?), ingerência causada pela dependência económica, mediocridade das lideranças, gap entre o parlamento e a realidade (material?). Nenhum é novo e alguns até são sistematicamente estudados, somando-se a tantos outros indícios tão profusamente disparados. Mas o que é particularmente interessante é a fulgurante capacidade da crise em estalar o verniz. Estamos a ficar nervosos?

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