AINDA O CONGRESSO DO PCP
No Sábado, quando um dos chamados renovadores - o autarca alvitense Lopes Guerreiro - subiu ao palanque para discursar, já a bem instruída JCP estava a postos. Para o que desse e viesse. Esse texto, também lido em representação do Presidente da Câmara de Redondo, Alfredo Barroso, não era um texto demasiado heterodoxo ou radical, à luz dos padrões democráticos por que me guio, evidentemente.
Tive acesso ao documento na sua versão integral e pelo que constatei, a sua «heterodoxia» residia simplesmente no facto de ter sido produto de uma reflexão crítica, logo, um documento herege à luz das orientações do Comité Central, cujos autores estavam identificados e importava abater. Assim sucedeu.
Quando Lopes Guerreiro vai no segundo ou terceiro parágrafo, já a verve dos imberbes imbecis afinadamente e em uníssono era descarregada sobre os dois homens que têm a ousadia de dizer que será talvez, cinzento... Ou seja, que têm a ousadia de pensar, de reflectir.
Choveram inclusive insultos, a grande maioria, proveniente de pueris e ignóbeis criaturazinhas que berram as palavras «25 de Abril» até à exaustão, sem terem a noção do que significam para aqueles que estiveram realmente lá. Agora, quanto muito, podem ser glorificantemente detidos por atacar o Macdonalds, sabendo perfeitamente que na prisão, têm garantias e direitos... Mas os insultos não foram somente proferidos por essa gentalha treinada para o efeito...
Entretanto, a parte hilariante e simultaneamente decadente guardei-a para o fim...
Desde o primeiro momento, Lopes Guerreiro e Alfredo Barroso são insultados e apupados, de forma organizada. Sucede porém que o primeiro terço do texto não é mais que uma citação, cuja revelação se dá evidentemente no final da mesma: é citada, ipsis verbis, uma moção saída do XIII Congresso do PCP, de Maio de 1990, na ressaca da dissolução do bloco de leste, que afirma a necessidade de mudança, a necessidade de adaptação às novas realidades em face de um modelo que fracassara. As pessoas não estavam lá para ouvir o que os dois autarcas tinham para dizer, estavam apenas para ostracizar quem não se revê na obsolescência do século XIX. É este o princípio democrático do comunismo português, é este o contributo que o PCP tem a dar à sociedade portuguesa.
Preocupados com as directrizes recebidas, os jovens ignorantes apupam o próprio XIII Congresso, vilipendiam nada menos do que Álvaro Cunhal (Secretário-Geral na altura).
Volvidos 14 anos, o PCP apresenta-nos inelutavelmente a sua regressão de três décadas.
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