8 de julho de 2005

Ó Anibal, há tipos com sorte...




O Aníbal é um vendedor de carretos de pesca bem sucedido, aufere um gordo vencimento e ama o seu trabalho. Bem, amar, amar, talvez não. Mas é como ele diz, «dá para as despesas»…

Comprou recentemente um excelente andar na margem sul, com uma área de 170 m². Como na sua área de trabalho nada pode ser deixado ao acaso, é extremamente rigoroso com a sua imagem. Por isso, acorda habitualmente às 6h00 para tomar banho, fazer a barba, escolher um fato, tomar o pequeno-almoço numa intensa azáfama matinal que fica completa com os cuidados especiais que requerem os pequenitos de 2 e 6 anos.

Antes de sair no seu Audi A4 para o escritório em Lisboa, ainda tem tempo para deixar o Gonçalo, de 2 anos, na creche, quando são 7h15 da manhã. Uma vez que o escritório abre às 9h00, resta-lhe aproximadamente 1h30 para se fazer à estrada, cruzar o rio Tejo de comboio e tomar a carreira urbana que o despeja a pouco mais de 300 metros do trabalho. São 8h45 quando entra na pastelaria do Sr. Possidónio para tomar um café e ler as gordas do Record.

Habitualmente, Aníbal passa o período da manhã no escritório, consignando a tarde para a visita a clientes. Por vezes torna-se aborrecido porque se há clientes dentro de Lisboa, outros há que implicam uma demorada deslocação a Belas, à Linha do Estoril e até mesmo no Barreiro ou Alverca. Entre intermináveis filas, monóxido de carbono, gente impaciente e por vezes um ou outro sopapo no meio da estrada.

O almoço [normalmente na pastelaria do Sr. Possidónio] costuma ser engolido, pois os clientes não esperam e apesar do longo relacionamento, o Sr. Possidónio não gosta de ver ninguém sentado no mesmo sítio durante mais de 20 minutos; «ao fim e ao cabo», se ele é pontual com os almoços, porque não hão-de os clientes ser pontuais com o seu apetite?

Por volta das 19h30 põe-se a caminho de casa, chegando ao lar às 21h00. Janta, põe a escrita em dia, distrai os pequenos com um filme da Disney ou com a playstation e por vezes, consegue ler dois capítulos do Paulo Coelho enquanto concilia com a esposa uma possível troca de carro. O dia seguinte não será muito diferente.

Mas é assim, já está habituado e as merecidas férias anuais numa estância exótica servem para recarregar baterias. Os fins-de-semana significam um descanso merecido, desde que as crianças não aborreçam com brincadeiras ruidosas e que exijam uma atenção permanente. E a ida semanal ao cinema no Colombo, essa, ninguém lha tira, até porque a esposa gosta sempre de se dar uns «miminhos» na Elena Miró ou na Giles Joalheiros, «coisas de gajas»...

Aníbal é um duro!


PS: Mas um dia, ele vai conseguir passar a sua hora de almoço numa piscina só para ele, na maior das calmas, como alguns ricaços deste país. Sem atropelos, berros ou correrias.
Asseguro-vos que há gente assim…


Bom fim-de-semana, ó Anibal!!!

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