11 de julho de 2005

O Inventão?!

Apesar do epíteto de «herói» com que a jornalista Margarida Neves de Sousa (RTP) insistia em rotular João (sobrevivente aos atentados de Londres), este jardineiro português lá ia rejeitando como podia, humilde e sensatamente, tal honraria, sublinhando que «heróis foram as pessoas que não sobreviveram, os bombeiros e os polícias».

Esta necessidade de forjar notícias fantásticas e em primeira-mão, novelas melodramáticas de cordel para entreter e embalar os telespectadores é recorrente. De tão banal, subtrai por completo a essência da profissão, relegando-a para a amálgama de profissões indiferenciadas, exclusivamente ao serviço da sustentabilidade financeira do Conselho de Administração. Me(r)cenato.

«O Hábito faz o monge», costuma dizer-se. Certamente seria este tipo de abordagem – meio encomendada, meio adormecedora – que alguns sectores da nossa sociedade estariam à espera, quando confrontados com um trabalho jornalístico sobre o «arrastão de Carcavelos», elaborado por uma jornalista que nos habituou a sê-lo: Diana Andringa.

Imediatamente acusada de aproveitamento político (sendo candidata pelo BE à Câmara da Amadora), provavelmente por quem tem interesses em obliterar as conclusões da jornalista, a autora desse trabalho de investigação não só se preocupou em procurar entrevistar verdadeiros intervenientes, como diversificar as fontes de informação, numa abordagem crítica e não pactuante com a versão oficial dos acontecimentos. Lembramos que o número de indivíduos supostamente envolvidos no «arrastão», diminuíram em 2 dias de uns impressionantes 500 para 40 elementos. Com o próprio Comissário da PSP a dar um show de languidez face ao poder dos media, perfeitamente ultrapassado por acontecimentos que não pode nem é capaz de explicar.

Independentemente da quantidade de elementos que terão protagonizado tal acção, ou se o foi realmente, não são postas em causa as convulsões sociais latentes em bairros degradados da periferia. Como em qualquer megalópole sul americana.
No entanto, trabalhos deste género e a sua imediata desvalorização vêm pôr em evidência a estreita relação entre os meios de comunicação de massa e os interesses instalados, sejam privados ou institucionais.

É incomparavelmente preferível inventar um herói português no caos londrino que venha abrir muitos jornais televisivos ou seja capa de jornais e revistas, do que confrontar os portugueses com a revelação de manipulações de bastidores que a comunicação social empreende (com profissionais cada vez mais medíocres e reféns de tiranos directores) em conluio com inúmeros intervenientes.

Tudo não terá passado afinal de uma intentona. Resta saber se há interesse por parte das autoridades nacionais em descobrir quem está por detrás dessa manipulação. Há-de se arranjar um jornalista estagiário filho de ninguém importante...
A avaliar pela impunidade política e criminal que assiste, por exemplo, ao déspota da Madeira, muito dificilmente veremos alguma vez clarificados em Portugal, episódios como este.

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