8 de agosto de 2006

As Escalas do Horror: Afinidade Cultural e Exposição Mediática Subjectiva

As notícias diárias que nos são trazidas pela imprensa internacional a respeito da guerra do Líbano, contêm um particular etnocentrismo ao nível da dramatização provocada pela intensidade da imagem e da amplificação simbólica do sofrimento. A dor convertida em espectáculo de consumo imediato, na reificação de um argumento cinematográfico.

Contudo, os efeitos da escala podem ser perversos pois se o actor libanês é amorfo, colectivo, sem cara e insensível, o actor israelita é individualizado, com família e amigos e responde por um nome. Este último actor é a nossa metáfora, a metáfora do homem ocidental, cujos valores, costumes, hábitos e rotinas comportamentais nos são sobejamente familiares.

A paz, a autonomia individual, a democracia, etc., configuram-se como valores e princípios cuja universalidade é claramente questionada por este tipo de reacções irracionais e demasiado arreigadas a padrões culturais que afastam o Homem da sua natureza.

Quem sofre mais? Os familiares do bebé atingido pelo ramo de um eucalipto em Sintra ou os familiares de um bebé atingido por um míssil em Beirute? Se o sofrimento de ambos se encontra num patamar convencional e objectivamente nivelado, por que absurdo motivo há tanta comiseração por uma merda de um forcado que parte a merda do bracinho depois da provocada investida de um touro, resultando numa total indiferença a morte de 3 dezenas de crianças em resultado de um bombardeamento israelita?

Acontece por outro lado, que a interiorização de uma identidade nacionalista e da matriz cultural são projectadas e aproximadas pela imagem e voz propagandísticas, unilaterais e axiologicamente parciais da comunicação social, notável instrumento de persuasão, condicionamento e influência, as formas de exercício de poder mais dissimuladas, difusas e eficazes ao serviço dos processos de supremacia cultural nos dois hemisférios.

A guerra é ganha aí, nas redacções de imprensa, na edição de imagens e na sua comercialização/difusão.

3 comentários:

Anónimo disse...

O ARV é mesmo anti-forcado.
Porquê?

ARV disse...

O ARV, não sei... Mas eu, confesso que não nutro uma especial afeição pela tauromaquia, apesar de neste caso em particular a questão considerada poder ser desenvolvida na sua essência, de modo igual quer se trate de um jogador de futebol ou de um forcado.

Foi abordada a questão do forcado porque ultimamente não tive oportunidade de ver nenhum futebolista a ficar com a perna à banda e observar a reacção de horror entre os presentes. Apesar de momentos antes passar uma reportagem sobre uma chacina de crianças no Líbano.

Claro que se coloca também a questão do directo, isto é, o mediatismo da imagem observada apenas com alguns milésimos de segundo de desfasamento da realidade. Pese embora o facto dos bombardeamentos de Bagdad em directo pouco ou nada suscitarem de emoção nos telespectadores, meros consumidores sentados numa confortável poltrona, a não ser a reprodução de uma cultura de consumo de tragédias. E aquele bruá característico de uma excitação nervosa galopante.

Regressando ao forcado, é claro que em lutas desiguais, torço sempre por David, pelo Benfica e pelo Touro.

Alexandre

Anónimo disse...

Lindo!Tirando o Benfica...