1 de outubro de 2006

Évora, o Esteio da Competitividade

Segundo um estudo realizado por dois investigadores da Universidade do Minho e considerando critérios e padrões de análise iguais aos utilizados pelo Fórum Económico Mundial, Évora estará no topo da competitividade nacional.

Claro que este índice, resultante da ponderação de diversos indicadores que dão corpo a 4 índices centrais de competitividade – demográfica, laboral, empresarial e de conforto – reflecte somente a potencialidade das cidades consideradas, em matéria de competitividade.

Por ser uma cidade com uma densidade populacional baixa, com taxa de desemprego inferior à média, por reunir um potencial turístico impar e boas condições objectivas de vida (ao nível das infra-estruturas se saneamento, habitação, pessoas por alojamento, etc.) entre outras virtudes, o estudo revela que o potencial de competitividade de Évora é maior do que o potencial de crescimento da capital, Lisboa, a segunda classificada neste estudo.

No entanto, há aqui vários aspectos que devem ser apreciados.

Em primeiro lugar, estamos a falar do que existe em potência e não na realidade. Os autores recorrem a uma analogia que me parece bastante feliz: «Évora tem uma longa recta numa estrada de terra batida», procurando enfatizar um percurso menos tortuoso do que as cidades que têm a estrada asfaltada embora com um traçado excessivamente sinuoso.

Em segundo lugar, é aceite que, à semelhança da lei dos rendimentos marginais decrescentes, o acréscimo da primeira unidade implique uma maior satisfação do que a segunda e assim por diante, ou seja, uma cidade com muitos recursos e de certa forma congestionada como o Porto (último classificado), possui menos margem de progressão (ou potencial) do que uma cidade actualmente pouco competitiva. Para ilustrar melhor o exemplo, basta considerar as taxas de crescimento de países em vias de desenvolvimento como a China, Argentina, Índia, Brasil, etc. muito superiores às da Europa, Japão e Estados Unidos.

Em terceiro lugar, convém não esquecer que se trata de um estudo comparado, às capitais de distrito e não necessariamente às cidades mais importantes e competitivas do território nacional.

Em quarto lugar, há factores de ponderação, de demonstração mais objectiva do que outros e que certamente se posicionam diferentemente face a um índice desta natureza, consoante o impacto que produzem. Sem dúvida que em matéria de competitividade, há factores como a dimensão do mercado, as infra-estruturas existentes, os incentivos ao investimento, o perfil de actividades económicas desenvolvidas numa região, salários médios, a qualificação dos recursos humanos, as acessibilidades e o custo de vida, são necessariamente mais determinantes do que outros, pelo que a ponderação dos indicadores tem que ser diferencial.
No índice relativo ao conforto, por exemplo, não se fez alusão ao preço médio das habitações nem ao custo de vida. E todos sabemos que, nessa matéria, Évora não tem uma dinâmica propriamente meiga. Mas tendo em conta os critérios utilizados, Évora surge como a cidade com maiores níveis de conforto.


Por todos estes motivos e mais um par de botas, o estudo revelado é extremamente importante para que os eborenses e o resto do país compreendam claramente que Évora é evidentemente um diamante em bruto, por lapidar (apesar da investigação não trazer nada de novo), e interiorizem essa ideia de forma consolidada.
Mas não certamente à custa da arbitrariedade desnorteada de sucessivas gerações de governantes, de profissionais incompetentes, nem de cidadãos desleixados para quem viver em Évora, só por si, deveria significar conviver com a excelência (sem menosprezo para ninguém) e ser um motivo de incontestável orgulho.

1 comentário:

ARV disse...

Depois do escrito:

Há factores que podem efectivamente funcionar como uma mais-valia competitiva, caso sejam materializados e que não foram, de modo nenhum, considerados nesta investigação.

Alguns deles são imediatamente reconhecíveis, como por exemplo, a proximidade quase equidistante a Lisboa e a Espanha; a centralidade no vértice superior do triângulo com Alqueva e Sines, interceptada pelo eixo Lisboa-Madrid; a recuperação de uma ideia de universidade; o património histórico e cultural; a sua extensa área de influência e referência, que se estende do recortado de Marvão às planícies últimas de Almodôvar, antes de encontrarem a Serra do Caldeirão; o ordenamento do território, etc., etc.

Contudo, à semelhança da não inclusão destes factores [potencialmente determinantes]para a caracterização competitiva de Évora, também as outras cidades não viram projectadas as suas reais ou potenciais vantagens competitivas.

Seria também importante que o mesmo estudo verificasse a compettividade real de cada uma das cidades.