15 de janeiro de 2007

De Quem é Esta Culpa?

O cidadão de S. Teotónio (Odemira), vítima de acidente rodoviário, que tardou 7 horas em chegar ao hospital mais próximo com ventilador e serviço de neurocirurgia disponíveis – Hospital de Santa Maria, em Lisboa, a escassos 200 Km de distância – ter-se-á afinal enganado no caminho, na sequência do incorrecto manuseamento do GPS. O Ministério da Saúde tenciona abrir um rigorosíssimo inquérito sobre se competia ou não, à vítima mortal e ao abrigo do plano de evacuação, a tarefa de indicar o caminho do hospital ao condutor da ambulância.
Caso se venha a apurar que essa responsabilidade cabia efectivamente à vítima, o ministro admite processar judicialmente o falecido pela sua própria morte. Caso contrário, a culpa é do condutor da ambulância, cuja pesada e exemplar sanção prevista é a inibição de condução de veículos de urgência quando não assinalam marcha de urgência.

No entanto, persistem ainda algumas dúvidas sobre a eventual deficiência do satélite e da informação geo-referenciada. Em todo o caso, o ministro não descarta a possibilidade de alguma confusão se ter instalado entre os operadores do INEM, uma vez que inicialmente terão ponderado o envio de um submarino (dos que Portas contratualizou para a armada portuguesa), para proceder à evacuação do homem.

Só 6 horas depois se terão dado conta de que afinal, os submarinos ainda não foram entregues pelo consórcio vencedor do concurso público, gerando-se uma acirrada e ordinária animosidade entre os telefonistas, pilotos de helicóptero, entre os padres das paróquias de Odemira e de Santa Maria a reivindicar a extrema-unção, entre polícias e bombeiros a reivindicar gratificados e ajudas de custo e entre os próprios candidatos à venda dos submarinos, que terão trocado ríspidos galhardetes sobre a celeridade na entrega dos mesmos.

Quem não está pelos ajustes é a insuspeita Dona Vanessa do Snack-Bar A Vanessa de Odemira, que vai entretanto pedir uma indemnização por danos morais ao Estado português, na sequência da reclamação movida pelo condutor da ambulância, segundo o qual, a sandes que comprou para a viagem já terá chegado «dura, mal-cheirosa e com pouco fiambre».

3 comentários:

Anónimo disse...

Toque de Génio!

Aí está um sketch do "Fiel Retrato de Portugal no seu Pior"

Anónimo disse...

Lamentavelmente, nesta como em outras histórias da vida real, o senhor que faleceu não é tido nem achado. Agora trata-se apenas de varrer a água do capote...

...muito bem, muito bem!!!

Anónimo disse...

Sem dúvida que seria preferível não existir história para contar.
Mas já que ela existe é bom que se conte e melhor ainda que se conte com espírito crítico, onde o senhor que faleceu é tido e achado numa perspectiva holística e sumarenta.

Entre tramas e tramados, não é admissível, num contexto destes que uma pessoa perca a vida... por nada. Ponto.

Quanto às águas do capote, vamos confiar na parca inteligência de quem conduzirá o processo, para não ter de ora em diante todos os condutores a pararem em acidentes de viação, a ver se os técnicos de emergência médica precisam de ajuda.

Que no meio dos maus, há sempre os bons e até os muito bons.