25 de abril de 2007

25 de Abril, Sempre!




Aqui no palhal, as coisas permanecem imperturbáveis. Uns, saudosistas do antigo regime e da escravatura e, outros, frustrados por não terem conseguido realizar o sonho de uma Albânia plantada no extremo ocidente do continente europeu, governado por algum Enver Hoxha à portuguesa. O país já era pouco miserável em 1974…

De resto… bom, de resto, tudo na mesma. Afinal, «o povo é sereno». Mas há, ainda, algo de que os uns e os outros não se querem convencer: o povo é quem mais ordena! Se a multidão de Lisboa não tivesse saído [espontaneamente e ansiosa pela mudança] à rua há precisamente 33 anos, o movimento anti-guerra colonial dos mal apetrechados militares de Abril, teria sido imediatamente esmagado nessas mesmas ruas ou, quanto muito, teria conseguido alcançar o grande objectivo de estancar o envio de tropas para África.
Também é certo que, por ser quem mais ordena, o povo português precisou de uma alavanca, caso contrário, permaneceria espoliado, subjugado e privado da sua liberdade durante mais uma década. Os partidos políticos podem ser essa alavanca, em particular os que são ideologicamente marcados por preocupações sociais, o elo mais fraco. Contudo, não são nem podem ser os partidos/elites políticas a ordenar seja o que for. Mal do povo seria...

Por ser quem mais ordena e por reconhecer a sua incapacidade em se autonomizar, o povo só aparenta dar-se bem no seio do lar, sob a alçada de um pai mandão que lhe dê umas vergastadas periodicamente para baixar as orelhas. E isso dá-lhe prazer. É o preço a pagar pelos créditos à habitação, pelos carros, pelas compras na IKEA, pelas viagens, pela liberdade de pensamento e de expressão, pelas férias pagas, pelos filhos doutores, pelos subsídios de desemprego, pela Internet e por toda a tralha que se carrega para casa, só porque é giro ou fica bem na estante [pensem na casa dos nossos avós e nas nossas]. A sociedade é feliz, coisifica-se o ser, como acusou Herbert Marcuse por mais de uma ocasião, nos idos da década de 70.

O povo é quem mais ordena. Bem ou mal. Por isso, neste regime letárgico, o povo ordena que se continue a dormir. Porque, apesar de espernear, a cama é fofa…


PS: só mais uma coisa... o 25 de Abril é do povo, não é propriedade de nenhum partido político. Que fastidiosa, esta constante apropriação de algo que só pode e deve existir em permanente reinvenção, dentro de cada um. Lá por um pai ter ajudado a criar um filho, não quer dizer que este seja um carro telecomandado do primeiro.



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25 de Abril de 2005

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