9 de outubro de 2007

A maioria absoluta do PCP

Onde quer que o homem apareça, é vaiado, assobiado e apupado. Saia para onde saia, esteja com quem estiver. Este transtorno causado pela vivência democrática já o levou a acusar o Partido Comunista de desenvolver uma oculta e ignominiosa estratégia de desgaste da sua figura, com ataques pessoais, vis e rasteiros.
Que faça como o resto dos portugueses e recorra aos tribunais, se tal é a confiança...

Com o característico contradiscurso ideológico, Jerónimo de Sousa produziu uma tirada bestial, certamente a da semana: «se os manifestantes fossem todos comunistas, o PCP teria maioria absoluta».
Ora, mas se todos fossem honestos, reconheceriam serenamente que a CGTP tende a agir concertadamente com o PCP, sem complexos. Mais, complexos de quê e porquê se, afinal, a matriz ideológica é a mesma?

Todavia, essa afinidade não faz da intersindical um mero apêndice do PCP. Quando se trata da defesa de direitos e privilégios, não há esquerda nem direita que valham a quem os põe em causa. Por essa razão, Jerónimo de Sousa aventou a afirmação com tão grande à vontade. Nestes ajuntamentos, é natural topar um coveiro, bruto como o mar a espirrar insultos, barricado lado a lado com uma beata professora do Ensino Secundário pouco dada a aturar fedelhos.

É dever dos muitos, avaliar casuisticamente o sentido das reformas encetadas pelo governo e os famosos «ataques aos direitos adquiridos», que não é coisa para brincar. Se é ou não a melhor estratégia, é justo que se avalie. Porém, nenhum dos sectores visados pode ter a veleidade e a ousadia de negar o despesismo, o laissez faire, o marasmo e a delapidação dos recursos do Estado, demasiadas vezes em nome de interesses corporativos, partidários, económicos e… autopromocionais. Por má organização, por maus dirigentes e por maus políticos, da esquerda à direita que sempre viram nos funcionários públicos pouco mais do que boletins de voto.

Por fim, foi a democracia que legitimou Sócrates pelo que, no mínimo, é exigível que o primeiro-ministro digira democraticamente a contestação de que é alvo. Sem vitimizações e sem tiques autoritários.

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