14 de julho de 2009

Para quê, um novo partido?!...

O rescaldo para o futuro vaticinado em 2006, na sequência das eleições presidenciais, não se verificou um prognóstico suficientemente sólido ou, pelo menos, tão certeiro quanto as profecias do Bandarra. Estou-me a referir em concreto à possibilidade aventada de a candidatura independente de Manuel Alegre poder significar o desmame final do poeta em relação à esquerda moderna de Sócrates e dos seus correligionários.
Essa poderia não ser a intenção do autor de Praça da Canção, contudo, era um cenário apetecido pelos que, nessa circunstância, o apoiaram.
A premissa de partida revelou-se inteiramente errada porque, recordamos, era admissível que aquela candidatura envolvesse um ponto de ruptura dentro do PS e, mercê da base social de apoio que mereceu, era expectável que a ruptura fosse institucional e significasse algo novo. Um novo partido político, por exemplo, mais próximo do marxismo não ortodoxo que está na base do socialismo em Portugal e no mundo.

Mas não, a anunciada ruptura foi eminentemente estratégica e as tomadas de posição que foram sucessivamente assumidas por Manuel Alegre demonstram que o sentido utilitarista prevaleceu sobre o telos ideológico.

O agigantamento da esquerda nas últimas eleições e o avanço da direita ditaram um humilhante resultado para o PS e colocaram os seus dirigentes exactamente onde Alegre queria que estivessem, isto é, sob a periclitante corda bamba que ele, Alegre, julga poder estabilizar. Arauto do socialismo, Alegre lá foi avisando o PS na última semana com maior acutilância do que o costume. E Sócrates entendeu o recado, ao proibir que algum lacaio teça considerações que afugentem o eleitorado que sobra.
Neste negócio entre Sócrates e Alegre só falta mesmo o sacerdote. E nem sequer podemos entender o compromisso como uma novidade ou inflexão política. Para desilusão de alguns...

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