28 de março de 2010

Vitória folgada de Passos Coelho

Numa disputa a quatro, alcançar um score que duplica os votos do segundo classificado é obra. Foi nesses termos que as bases agora convocadas para sufragar o líder contrariaram a exclusão de Pedro Passos Coelho das listas do PSD pela anterior líder, também ela então merecedora da confiança das bases. E não deixa de ser curioso notar que esse episódio da não integração de Passos Coelho nas listas para as legislativas foi protagonizado pelos do aparelho sobre um dos seus. Da mesma forma, desenganem-se aqueles que acreditam numa messiânica autodeterminação das bases: quem o perseguiu é quem o lá colocou. Pedro Passos Coelho é um homem do aparelho, conhece as suas entranhas e o pulsar do seu coração. Melhor do que os seus oponentes. Como é evidente, beneficiou de outros aspectos como a vitimização em face do episódio aqui referido, com uma candidatura vespertina que se clarificou naturalmente, com a personalidade forte e carismática, e com a confusão inicial das candidaturas de Aguiar-Branco e Paulo Rangel (cheirou a golpe palaciano mal preparado).

Sócrates e o PS ganham um opositor mais combativo embora a sede de truculência interna dentro do próprio PSD possa encarregar-se de o apear dentro de um par de anos. Por outro lado, depois de Cavaco Silva e de um interregno quase desértico, Passos Coelho parece ter condições para fortalecer o PSD sem ajudas guterristas (quando pediu a demissão de primeiro-ministro) ou sampaistas (com uma dissolução compulsiva e descabelada da Assembleia da República): nem Sócrates se intimida facilmente como para atirar a toalha ao chão nem Cavaco Silva é homem de viagens sobressaltadas, apesar de agora contar com uma nova justificação, caso lhe passasse pela cabeça demitir o governo ou dissolver a AR. Não o fará. Não porque não possa mas porque deseja muito voltar à política activa durante os próximos cinco anos.

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