24 de janeiro de 2005

A política a todos I




Como já foi esclarecido no post “da democracia em todos os lugares menos na América” (29-12-05), uma das condições da democracia, segundo Robert Dahl, é aquela que dá conta do «direito de competir pelo apoio e pelos votos». Mas este direito consagrado como um dos 8 requisitos-base de Dahl não pode ser de modo algum desenraizado de uma teleologia de base que está na origem da ideia de democracia, isto é, governo do povo, para o povo: após sufragados pelo povo, os seus legítimos representantes – portanto, homens do povo – defendem o s interesses daquele. De resto, todos ao princípios gerais que sustentam esta ideia de democracia encontram-se na Lei Fundamental.

Estou a maçar-vos com estes paroxismos pouco excitantes porque entrámos em período de pré-campanha eleitoral, ou na verdade nunca de lá saímos… É certo que as campanhas eleitorais transformam-se naturalmente em caça ao voto, como de resto, admite Dahl ao postular uma proposição como a que vimos. No entanto, é suposto que as diferentes campanhas reflictam a ideologia que está na origem das clivagens partidárias que ainda subsistem, apesar da bipolarização crescente entre as duas maiores forças partidárias. Feita essa distinção, o povo poderá mandatar aqueles que supõe serem os representantes mais credíveis, competentes, honestos, sejam quais forem os critérios que sustentam a decisão no processo de escolha que cada indivíduo opera. Mas ao menos, deverão estar aptos a distinguir os partidos e respectivos líderes a partir dos projectos que estes apresentam ao país.

Mas não é isso que sucede. Estamos perante uma campanha eleitoral assente na descredibilização do outro e não alicerçada em propostas sólidas e credíveis para o PAÍS. Pois é… Os intervenientes consomem uma grande fatia de tempo e recursos com ataques pessoais. A mim, pessoalmente, faz lembrar as esquálidas claques de futebol, mais ocupadas em denegrir o adversário que em motivar a própria equipa.
De resto, quando folheamos um jornal, deparamo-nos logo com o sangue que faz a delícia dos jornalistas, o torpor dos alheados e a incredulidade dos que consideram inaceitável esta confrangedora situação. Estamos a um mês das eleições e só agora começamos a ouvir falar de uma ou outra proposta, sinal dos tempos em que a impreparação e improviso mediático se sobrepõem ao «método» e responsabilidade.

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